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Os Novíssimos: Reflexões sobre as Últimas Coisas à Luz da Doutrina Católica

Atualizado: 13 de nov.


ARTIGO - NOVÍSSIMOSCaminho de Fé

PODCAST - OS NOVISSIMOSCaminho de Fé

INTRODUÇÃO

Os "novíssimos" são as últimas realidades que todo ser humano enfrentará, segundo a doutrina católica. Eles consistem na morte, no juízo particular logo após a morte, no purgatório como possível estado intermediário de purificação, no inferno como estado de condenação eterna, e no paraíso como estado de eterna bem-aventurança na presença de Deus.

Refletir sobre os novíssimos é de suma importância para todo cristão, pois nos ajuda a viver com sabedoria e retidão, na perspectiva das realidades eternas. Como nos ensina o Catecismo Romano, "considerar a morte frequentemente e com seriedade é uma prática que leva a uma vida virtuosa e à esperança na ressurreição" (Catecismo Romano, Cap. IV, §13). Essa meditação nos convida a uma sincera conversão, a viver em estado de graça e a progredir continuamente no amor a Deus e ao próximo. Nos motiva a usar bem o tempo presente, que é o único que temos para "ganhar" o céu e evitar o inferno.

Numa cultura que tende a evitar o tema da morte e a viver como se esta vida fosse a única que existe, a meditação sobre os novíssimos é um poderoso antídoto contra a superficialidade, o hedonismo e o materialismo. Ela nos desperta para o que realmente importa, nos incentiva a não absolutizar as realidades terrenas, mas a vivê-las na perspectiva do nosso destino eterno.

O objetivo deste artigo é aprofundar a reflexão sobre cada um dos novíssimos — morte, juízo, inferno, paraíso e purgatório — à luz da fé católica. Buscaremos compreender melhor o que a Igreja ensina sobre essas realidades, com a ajuda de grandes mestres espirituais como Santa Catarina de Gênova e São João da Cruz, bem como do Catecismo da Igreja Católica. Veremos como a consideração dos novíssimos, longe de nos levar ao medo ou ao desespero, é um convite à esperança, à vigilância e à santidade de vida. Pois, como diz São Paulo: "A noite vai adiantada, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz" (Rm 13,12).

Uma alma diante do anjo da justiça divina, que segura uma balança e uma espada, simbolizando o julgamento celestial e a misericórdia de Deus no destino eterno.

1. A MORTE

"E em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim e jamais pecarás" (Eclo 7,40).

A morte entrou no mundo como consequência do pecado original. Pelo pecado de Adão, a humanidade perdeu o dom da imortalidade e ficou sujeita à lei inexorável da morte. "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte" (Rm 5,12). Desde então, a sentença divina "és pó e ao pó voltarás" (Gn 3,19) pesa sobre cada ser humano.

Uma das características mais angustiantes da morte é sua imprevisibilidade. Não sabemos nem o dia nem a hora em que ela virá nos buscar. Pode chegar de repente, quando menos esperamos, surpreendendo-nos desprevenidos. Por isso, o Senhor nos adverte: "Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor" (Mt 24,42). É preciso estar sempre preparado, vivendo cada dia como se fosse o último, na graça de Deus.

Meditar frequentemente sobre a morte é um meio poderosíssimo para a conversão e o progresso espiritual. Os santos recomendavam vivamente este exercício. Pensar na morte nos ajuda a relativizar as coisas passageiras desta vida e a buscar o que é eterno. Faz-nos compreender a vaidade das honras, riquezas e prazeres mundanos, que a morte inexoravelmente nos arrancará. Estimula-nos a aproveitar bem o tempo presente, único que temos para amar e servir a Deus, fazer o bem e ganhar o Céu.

Sobretudo, a meditação da morte nos leva a encará-la na perspectiva da fé. Para o cristão, a morte não é um muro intransponível, mas uma porta que se abre para a eternidade. É a passagem deste mundo para a Casa do Pai. É o dies natalis, o dia do nascimento para a verdadeira Vida. Bem-aventurados os que morrem no Senhor, porque suas boas obras os acompanham (cf. Ap 14,13) e vão receber a coroa da glória que não murcha (cf. 1Pd 5,4). Ao contrário, ai daqueles que morrem em pecado mortal, pois sofrerão a "segunda morte" (Ap 20,14), a condenação eterna.

Peçamos, pois, a graça de uma santa morte, perseverando fiéis a Deus até o último suspiro. Preparemo-nos para esse momento decisivo, do qual depende nosso destino eterno, vivendo cada dia com fervor, como se fosse o último. Quando chegar a hora, poderemos dizer confiantes como São Paulo: "Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele Dia" (2Tm 4,7-8).


2. O JUÍZO

Logo após a morte, a alma se apresenta diante de Jesus Cristo para o juízo particular. Este é o momento decisivo em que se define o destino eterno da pessoa.

"Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois disto o juízo" (Hb 9,27).

Nesse encontro face a face com o Senhor, a alma verá instantaneamente, à luz de Deus, toda a sua vida. Jesus, que tudo sabe e conhece o mais íntimo dos corações (cf. Jo 2,25), manifestará com perfeita clareza o valor moral de todos os atos, palavras, pensamentos e omissões da pessoa. Nada ficará oculto, pois diante d'Ele "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas" (Hb 4,13).

O critério fundamental desse juízo será o amor: "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade" (Mt 7,22-23). Não bastam as belas palavras, nem mesmo os milagres. O que vale é ter vivido na caridade, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,36-40). Serão examinadas as obras de misericórdia praticadas ou omitidas em relação aos mais pequeninos, com os quais o próprio Cristo se identificou (cf. Mt 25,31-46).

Além desse juízo particular logo após a morte, haverá também, no fim dos tempos, o Juízo Universal. Então, diante de todo o universo reunido, serão manifestas a justiça e a misericórdia de Deus no governo do mundo. Aparecerá com clareza o sentido último da história, tantas vezes obscuro aos nossos olhos. E Cristo virá "na sua majestade e todos os anjos com ele... E todas as nações serão reunidas diante dele" (Mt 25,31-32). Será o triunfo definitivo do bem sobre o mal, a vitória do Cordeiro imolado, o ingresso dos eleitos nas núpcias eternas e a condenação irrevogável dos réprobos. Então se cumprirá perfeitamente a palavra do Senhor: "Eis que venho sem demora, e trago comigo a recompensa, para retribuir a cada um segundo as suas obras" (Ap 22,12).


3. O INFERNO

O inferno é a condenação eterna, o estado de separação definitiva de Deus, destinado àqueles que morrem em pecado mortal, em rejeição consciente e obstinada a Deus. É a pior desgraça que pode acontecer à pessoa humana, pois consiste na privação perpétua da visão beatífica, para a qual fomos criados.

O inferno não é uma imposição arbitrária de Deus, mas o resultado da livre escolha da criatura em rejeitar o seu Criador e último fim. Deus, que nos fez sem nós, não nos salva sem nós. Ele respeita a liberdade que nos deu e ratifica eternamente a opção fundamental que cada um fez em vida: viver com Ele ou sem Ele. Quem rejeita obstinadamente o amor de Deus, excluindo-se da comunhão com Ele pelo pecado grave não arrependido, "auto-condena-se" ao inferno.

As Sagradas Escrituras, com linguagem figurada mas inequívoca, descrevem os sofrimentos atrozes do inferno: o "fogo que não se apaga" (Mc 9,43), o "verme que não morre" (Mc 9,48), o "pranto e ranger de dentes" (Mt 8,12), as "trevas exteriores" (Mt 22,13), a "segunda morte" (Ap 20,14), a "gehena" (Mt 5,22), o "lago de fogo e enxofre" (Ap 21,8). Mais que sofrimentos físicos, estas imagens apontam para a indescritível dor espiritual da alma condenada, consumida pelo remorso, desespero e ódio, por ter perdido o seu Bem infinito.

A possibilidade real do inferno, atestada claramente por Jesus Cristo, deve ser um forte estímulo à conversão e à vigilância. "Temei antes Aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo" (Mt 10,28), adverte o Senhor. Diante desta tremenda perspectiva, como não fazer todo o possível e o impossível para evitar o pecado e perseverar no amor de Deus? Como não implorar cada dia a sua graça e misericórdia? Como não aproveitar o tempo presente para assegurar a salvação eterna? Pois "que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mt 16,26).


4. O PARAÍSO

O paraíso ou céu é a bem-aventurança eterna, o estado de perfeita e definitiva união com Deus, destinado àqueles que morrem na graça e amizade divinas. É a realização plena e transbordante de todos os anseios mais profundos do coração humano, a satisfação total de todo desejo de felicidade.

No céu, os bem-aventurados gozam da visão beatífica, ou seja, contemplam a Deus "face a face" (1Cor 13,12), conhecendo-O e amando-O de modo perfeito, imediato e intuitivo. Já não "como em espelho e de maneira confusa", mas na luminosa evidência de sua glória. Mergulhados no oceano da divindade, participam plenamente da vida íntima da Santíssima Trindade. Unidos totalmente a Cristo, vivem Dele, com Ele e Nele.

Lá, enfim, encontram aquela paz e alegria imensas pelas quais tanto suspiraram na terra. O céu é o fim último e a realização de todas as aspirações mais nobres do homem, o estado de suprema e definitiva bem-aventurança, a plenitude da vida e do amor. Nada mais a desejar, nada mais a buscar: os santos possuem o Bem infinito e eterno, fonte de todo bem. Vivem em perfeita comunhão com Maria Santíssima, os anjos e todos os bem-aventurados, na alegria sem fim do banquete nupcial do Cordeiro.

A firme esperança dessa felicidade futura deve animar e impulsionar toda a vida cristã. Em meio às provações e sofrimentos deste mundo, o pensamento do céu nos conforta e fortalece. Nos estimula a perseverar no bem, sabendo que "as aflições momentâneas e leves da vida presente produzem para nós um peso eterno de glória" (2Cor 4,17). Nos ajuda a viver com desprendimento dos bens passageiros e a buscar "as coisas do alto" (Cl 3,1). Nos enche de ânimo para lutar o bom combate da fé, na certeza de que "os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8,18). Pois "o que o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem jamais penetrou o coração do homem, é o que Deus preparou para aqueles que o amam" (1Cor 2,9).


5. O PURGATÓRIO

O purgatório é um estado de purificação após a morte, destinado àqueles que morreram na graça e amizade de Deus, mas ainda não estão totalmente purificados para entrar na bem-aventurança do céu. É uma doutrina firmemente ensinada pela Igreja Católica, baseada na Sagrada Escritura e na Tradição.

O purgatório é uma expressão admirável da misericórdia e da justiça divinas. Da misericórdia, porque Deus, em seu amor, não quer que nada de manchado entre no céu; da justiça, porque toda falta deve ser expiada e toda dívida paga até o último centavo (cf. Mt 5,26). As almas do purgatório já estão salvas, confirmadas na graça, mas precisam ainda purificar-se das faltas veniais não perdoadas e satisfazer plenamente a justiça divina pelas penas temporais devidas aos pecados já perdoados.

Os sofrimentos do purgatório têm um sentido medicinal e satisfatório. Medicinal, porque, como um fogo purificador, vão eliminando das almas todo apego desordenado, toda "ferrugem" do pecado, tornando-as cada vez mais capazes da união com Deus. Satisfatório, porque, como uma reparação oferecida à santidade e justiça divinas, vão saldando a dívida de pena que os pecados merecem. Esses sofrimentos, por mais intensos que sejam, são temperados pela certeza da salvação e pelo ardente amor a Deus.

A doutrina do purgatório está intimamente ligada à consoladora verdade da comunhão dos santos. As almas do purgatório, sendo membros da Igreja padecente, podem ser ajudadas pelos sufrágios (orações, esmolas, sacrifícios e indulgências) dos fiéis que ainda peregrinam na terra (Igreja militante) e pela intercessão dos santos do céu (Igreja triunfante). É uma grande obra de misericórdia rezar pelos defuntos, mandando celebrar missas por sua intenção. Eles não podem mais merecer por si mesmos, mas podem ser socorridos por nós. E quando entrarem no céu, serão nossos intercessores. Admirável é a solicitude da Igreja por seus filhos falecidos, a quem nunca abandona, até que estejam perfeitamente purificados e dignos de entrar no gozo eterno da casa do Pai.


CONCLUSÃO

Ao longo deste artigo, meditamos sobre as realidades últimas que nos esperam após a morte, conhecidas na doutrina católica como os "novíssimos": a morte, o juízo, o inferno, o paraíso e o purgatório.

Vimos que a morte é o fim inevitável de nossa peregrinação terrena, o momento decisivo que sela nosso destino eterno. No juízo particular, cada alma se apresenta diante de Cristo para prestar contas de sua vida, sendo examinada à luz do amor. O inferno é a terrível possibilidade da condenação eterna, fruto não da vontade de Deus, mas da obstinada rejeição da criatura ao Criador. O paraíso, ao contrário, é a meta sublime de nosso ser, a perfeita bem-aventurança na visão e no amor de Deus, para a qual fomos criados. O purgatório, enfim, é o estado de purificação necessária para aqueles que, morrendo na graça de Deus, ainda não estão plenamente preparados para a glória celeste.

A meditação sobre estes novíssimos, longe de ser mórbida ou deprimente, é sumamente salutar e até imprescindível para uma vida cristã autêntica. Ela nos desperta do torpor da indiferença, nos cura da ilusão da autossuficiência, nos impele a aproveitar o tempo presente para amar e servir a Deus. Conscientes da brevidade e precariedade da vida terrena, somos estimulados a buscar "as coisas do alto" (Cl 3,1), a usar os bens deste mundo como meios e não como fins, a praticar as obras de misericórdia, a progredir no caminho da santidade.

Que a consideração dos novíssimos, portanto, nos leve a uma sincera conversão, a retificar o rumo de nossa vida, reordenando todas as coisas para Deus. E que ela reacenda em nós a esperança da vida eterna, a "bem-aventurada esperança" (Tt 2,13) que nos faz antecipar, desde já, as alegrias sem fim do Céu. Pois "o que o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem jamais penetrou o coração do homem, é o que Deus preparou para aqueles que o amam" (1Cor 2,9).


ORAÇÃO DE ENCERRAMENTO

Senhor Jesus Cristo, Senhor da Vida e da História, em vossas mãos coloco minha existência e meu destino eterno. Concedei-me a graça de viver sempre com os olhos fixos na eternidade, lembrando que esta vida é passageira e que o mais importante é alcançar a salvação e a santidade.

Tende misericórdia de mim, perdoai meus pecados e fortalecei-me na luta contra o mal. Dai-me a graça da perseverança final, para que, no momento decisivo da morte, eu esteja unido a vós na fé, na esperança e no amor.

Por intercessão de Santo Afonso de Ligório, concedei-me a graça de viver cada dia como se fosse o último, na vossa presença, para que, no momento da minha morte, eu possa ser acolhido no vosso reino eterno. Que eu possa, um dia, ver-vos face a face no Paraíso e cantar eternamente vossas misericórdias, junto com Maria Santíssima e todos os anjos e santos. Amém.

 

Referências e Fontes

Citações:

  • Gn 3,19: "És pó e em pó te hás de tornar."

  • Lc 18,1: "Convém orar sempre e não desfalecer."

  • 1Cor 13,12: "Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas depois veremos face a face."

  • 2Cor 4,17: "As aflições momentâneas e leves da vida presente produzem para nós um peso eterno de

    glória."

  • 2Cor 5,10: "Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba a recompensa do bem ou do mal que tiver feito enquanto estava no corpo."

  • Ef 4,24: "Revestir-se do homem novo."

  • Mt 25,31-46: Parábola do Juízo Final, separação entre "ovelhas" e "cabritos".

  • Ap 14,13: "Bem-aventurados os que morrem no Senhor."

  • Ap 20,14: O inferno é a "segunda morte."

  • Ap 21,8: "Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os impudicos, os feiticeiros, os idólatras e todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte."

  • 2Mac 12,46: "Por esta razão [Judas Macabeus] fez este sacrifício expiatório em favor dos mortos, para que fossem libertados do pecado."

Referências Adicionais:

  • Santa Catarina de Gênova, "Tratado sobre o Purgatório".

  • São João da Cruz, "Noite Escura", "Subida do Monte Carmelo".

  • Santo Afonso de Ligório, "Preparação para a Morte".

  • São Boaventura, "Brevilóquio".

  • São Cirilo de Jerusalém, "Catequeses Mistagógicas".

  • São João Crisóstomo, "Homilias".

  • Santo Agostinho, "Confissões".

  • Catecismo da Igreja Católica, nn. 1020-1060, 1371, 1471-1479.

  • Concílio de Florença (1439).

  • Concílio de Trento (1563).

  • Papa Bento XII, Constituição "Benedictus Deus" (1336).

  • Papa Paulo VI, Constituição Apostólica "Indulgentiarum Doctrina" (1967).

  • Código de Direito Canônico (1983).

  • Bento XVI, Spe Salvi, Carta Encíclica sobre a Esperança Cristã, 2007.

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