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INTRODUÇÃO
A oração, segundo Santo Tomás de Aquino, é um ato que envolve tanto a intelectualidade quanto a vontade do ser humano, dirigido a Deus. Ele concebe a oração como um diálogo com Deus, onde o homem, através de sua razão e desejo, busca a comunhão com o Criador. Esta comunicação não é apenas um pedido de ajuda ou agradecimento, mas uma expressão da total dependência do homem em relação a Deus, reconhecendo-O como a fonte de todo bem e a finalidade última de sua existência. A oração, assim, torna-se um ato de humildade e reconhecimento da soberania divina.
A importância da oração na vida cristã é multifacetada. Primeiramente, Santo Tomás aponta que a oração é um meio pelo qual a alma do fiel se eleva a Deus, expressando seus desejos mais profundos de forma ordenada e reta. Isso é evidenciado na oração do "Pai Nosso", que Santo Tomás considera a mais perfeita das orações, pois encapsula todos os pedidos que o homem pode legitimamente fazer a Deus, refletindo assim a totalidade dos anseios humanos de acordo com a vontade divina.
Além disso, a oração funciona como um veículo de mérito diante de Deus, no sentido de que ela é meritória quando permeada pela graça. Através da oração, o fiel não só se comunica com Deus, mas também atua de forma meritória, podendo assim participar mais plenamente da vida divina. A oração é, portanto, um ato de religião no sentido mais amplo, pois ela ordena o homem a Deus, prestando-Lhe o culto devido de honra e adoração, ao mesmo tempo que expressa a submissão do homem à providência divina.
A vida de oração, portanto, é fundamental para o crescimento espiritual do cristão. Ela é o meio pelo qual o fiel mantém uma relação viva e pessoal com Deus, reconhecendo sua dependência e expressando seu amor e adoração. Através da oração, especialmente do "Pai Nosso", o cristão é instruído na maneira correta de desejar, pedir e agradecer, alinhando seus desejos com a vontade divina e crescendo em santidade e graça.
A oração do "Pai Nosso", conforme ensinado por Santo Tomás de Aquino na "Suma Teológica", é uma oração perfeitíssima que encapsula não apenas todos os desejos que podemos legitimamente ter diante de Deus, mas também os ordena na sequência em que devem ser desejados. Esta oração, ensinada por Cristo aos seus discípulos, serve como modelo de oração cristã por várias razões.
ESTRUTURA E SIGNIFICADO
1. Invocação Inicial: A oração começa com a invocação "Pai Nosso que estais nos céus", estabelecendo uma relação íntima e filial com Deus, reconhecendo sua transcendência e paternidade universal. Este início nos lembra da nossa adoção como filhos de Deus, chamados a viver em comunhão com Ele e com todos os irmãos em Cristo.
2. Primeiras Petições - A Glória de Deus:
- "Santificado seja o Teu nome": Aqui pedimos que o nome de Deus seja reconhecido como santo por todos, refletindo o desejo de que a Sua glória seja vista e louvada em toda a terra.
- "Venha a nós o Teu reino": Expressamos o desejo de que o reinado de Deus se estabeleça plenamente, o que implica tanto um anseio pela justiça divina quanto pela plena realização do plano salvífico de Deus para a humanidade.
- "Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu": Esta petição reflete a submissão total à vontade divina, desejando que a harmonia e a ordem do céu sejam replicadas na terra.
3. Petições Relativas às Nossas Necessidades:
- "O pão nosso de cada dia nos dá hoje": Pedimos a Deus o sustento necessário para a vida, que pode ser interpretado tanto no sentido material quanto espiritual, incluindo a Eucaristia, o alimento espiritual por excelência.
- "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido": Solicitamos o perdão divino para nossos pecados, condicionado à nossa própria disposição para perdoar aqueles que nos ofenderam, refletindo a misericórdia que deve permear as relações humanas.
- "E não nos deixeis cair em tentação": Aqui, pedimos a força para resistir às tentações que nos afastam de Deus, reconhecendo nossa fragilidade e a necessidade da graça divina para permanecer fiéis.
- "Mas livrai-nos do mal": Finalmente, suplicamos a libertação de todo mal, o que inclui tanto o mal físico quanto espiritual, buscando a proteção divina contra todo dano e adversidade.
Santo Tomás enfatiza que a oração do "Pai Nosso" não é apenas um modelo de petição, mas também uma escola de desejo cristão, ensinando-nos a ordenar nossas vontades segundo a vontade de Deus. Ela nos orienta a buscar primeiro o reino de Deus e sua justiça, confiando que, ao fazermos isso, todas as nossas necessidades serão atendidas conforme a providência divina. Através desta oração, aprendemos a colocar Deus no centro de nossas vidas, aspirando a uma comunhão mais profunda com Ele e com nossos irmãos e irmãs em Cristo.
TEOLOGIA DO "PAI NOSSO"
O "Pai Nosso", enquanto oração ensinada por Cristo, reflete profundamente as virtudes teologais de fé, esperança e caridade, orientando o fiel para os bens últimos e enfatizando a universalidade da mensagem cristã.
Relação com as Virtudes Teologais
Fé: Ao iniciar com "Pai Nosso que estais nos céus", a oração baseia-se na fé em Deus como Pai celestial, reconhecendo sua onipotência e providência. A fé se manifesta na confiança de que Deus escuta e atende às preces de seus filhos, conforme sua vontade divina.
Esperança: As petições "Venha a nós o Teu reino" e "Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu" refletem a esperança cristã na realização do Reino de Deus e na consumação final dos tempos, onde a vontade divina prevalecerá plenamente. A esperança é também evidente na petição pelo "pão nosso de cada dia", confiando na provisão contínua de Deus para nossas necessidades temporais e espirituais.
Caridade: O pedido "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" é um apelo à caridade, ao amor fraterno que perdoa e busca a reconciliação, refletindo o mandamento do amor ao próximo como expressão do amor a Deus. A caridade se manifesta igualmente na disposição de não cair em tentação e ser livrado do mal, buscando viver uma vida que reflita o amor e a santidade divina.
O "Pai Nosso" e os Bens Últimos
A oração orienta os fiéis a contemplar e desejar os bens últimos: a união com Deus, a beatitude eterna e a vida eterna. Ao pedir a vinda do Reino de Deus e a realização da vontade divina, os fiéis expressam seu anseio pela plenitude da comunhão com Deus, pela realização da justiça divina e pela consumação da salvação. A oração como um todo move os corações dos fiéis na direção da vida eterna, centrando suas vidas no desejo de Deus e em sua promessa de salvação.
A Universalidade do "Pai Nosso"
A universalidade do "Pai Nosso" reside em sua aplicabilidade a todos os estados da vida cristã e a todas as necessidades humanas. Ela abrange todos os aspectos essenciais da relação do homem com Deus: adoração, confiança, súplica por necessidades básicas, pedido de perdão, auxílio contra o mal e a tentação. Como tal, serve a todos, independentemente de sua condição de vida, convidando cada pessoa a entrar em uma relação íntima com Deus Pai através de Cristo. A oração reflete os anseios universais do coração humano por Deus, por sua justiça, e pela manifestação de seu Reino, tornando-se assim uma oração para toda a humanidade, em qualquer época e lugar.
ASPECTOS MORAIS E ESPIRITUAIS DO "PAI NOSSO"
Purificação do Coração
A oração do "Pai Nosso", conforme interpretada por Santo Tomás de Aquino, atua significativamente na purificação do coração do fiel. Esta purificação é essencial para a vida espiritual, pois o coração é o centro da vontade humana, onde residem os desejos e intenções. Através da oração, especialmente do "Pai Nosso", o fiel é convidado a alinhar seus desejos com a vontade de Deus, promovendo uma purificação interior que afasta o coração das afeições desordenadas e o orienta para o amor divino.
Santo Tomás ensina que a purificação do coração ocorre principalmente pelo movimento da fé, aperfeiçoada pela caridade. A fé, ao nos abrir para a realidade de Deus e sua verdade, inicia um processo de purificação ao nos desviar das afeições temporais e nos mover em direção a Deus, o bem supremo. Ao rezar o "Pai Nosso", esse movimento é intensificado, pois reconhecemos explicitamente nossa dependência de Deus e nosso desejo de conformar nossa vida à sua vontade, purificando assim nosso coração pela graça divina.
Oração como Meio de Graça
A oração, particularmente o "Pai Nosso", é um veículo poderoso da graça de Deus, promovendo a transformação interior e o crescimento espiritual do fiel. Santo Tomás destaca que a oração é um ato meritório, capaz de nos dispor mais plenamente à ação da graça em nossas vidas. Ao orar, não somente expressamos nossos desejos e súplicas a Deus, mas também nos abrimos à recepção de sua graça, que atua em nós para nos transformar e nos conformar à imagem de Cristo.
Esta ação transformadora da graça é particularmente evidente nas petições do "Pai Nosso", que nos orientam para a busca dos bens espirituais e a purificação de nossas intenções e ações. Cada petição reflete um aspecto da vida cristã que requer a graça de Deus para ser vivido plenamente: desde o desejo pela santificação do nome de Deus até o pedido de libertação do mal. Assim, a oração do "Pai Nosso" serve como meio pelo qual Deus comunica sua graça aos fiéis, capacitando-os a viver segundo sua vontade e a crescer em santidade.
Portanto, o "Pai Nosso" é mais do que uma simples oração; é uma via de purificação do coração e um canal da graça divina, que transforma o fiel e o guia no caminho do crescimento espiritual.
CONCLUSÃO:
A PRÁTICA DO "PAI NOSSO" NA VIDA CRISTÃ
Integração da Oração na Vida Diária
Santo Tomás de Aquino enfatiza que a prática da oração, particularmente do "Pai Nosso", deve ser uma parte integral da vida diária do cristão. Ele argumenta que a oração dominical é a expressão perfeita dos desejos do coração humano em relação a Deus, ordenando-os de maneira que refletem a reta intenção e o desejo correto. Para integrar o "Pai Nosso" na prática diária da oração, os fiéis são incentivados a:
1. Recitar conscientemente: Engajar-se na oração do "Pai Nosso" com plena consciência e atenção, meditando sobre o significado de cada petição e como ela se aplica à vida pessoal.
2. Viver as petições: Esforçar-se para viver de acordo com o espírito das petições do "Pai Nosso", procurando a santificação do nome de Deus, a vinda do Seu reino e a realização da Sua vontade em todas as ações diárias.
3. Usar como guia espiritual: Permitir que o "Pai Nosso" sirva como um guia para a oração pessoal, moldando as próprias petições e desejos segundo o modelo que Cristo nos ensinou.
A Oração como Caminho para Deus
A oração do "Pai Nosso" é, em sua essência, um caminho que guia o fiel em sua jornada espiritual para uma maior união com Deus. Santo Tomás sublinha que esta oração encapsula todos os desejos legítimos que podemos ter diante de Deus, ordenando-os de maneira que nos conduz mais profundamente para o coração do mistério divino. Ao orar o "Pai Nosso", os fiéis são convidados a:
- Aspirar pela santidade: Reconhecendo Deus como o fim último de todos os desejos e ações.
- Buscar a vontade de Deus: Alinhando a própria vontade com a vontade divina, buscando primeiro o reino de Deus e sua justiça.
- Confiar na providência divina: Entregando-se à providência de Deus nas necessidades diárias, tanto espirituais quanto materiais.
- Praticar o perdão: Vivendo o chamado ao perdão como meio de participação na misericórdia divina.
- Resistir às tentações: Fortalecendo-se contra as tentações e o mal com a graça de Deus.
Em resumo, a oração do "Pai Nosso" é um meio poderoso de crescimento espiritual e união com Deus. Ela ensina os fiéis a ordenar seus desejos de acordo com a vontade divina, a buscar a santidade na vida diária e a confiar na providência e misericórdia de Deus. Integrar esta oração na vida diária é um caminho seguro para aprofundar a relação com Deus e viver plenamente a vocação cristã.
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