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O Coração da Lei: Jesus, o Shemá Israel e o Amor em Marcos 12,28b-34


ARTIGO - SHEMA ISRAELCaminho de Fé

INTRODUÇÃO

No coração do ministério de Jesus, encontramos um momento crucial que ilumina a essência de sua mensagem e missão. Em Marcos 12,28b-34, Jesus é abordado por um escriba que, tendo ouvido suas discussões com outros líderes religiosos, reconhece a sabedoria de suas respostas. Movido talvez por um desejo genuíno de compreender, o escriba faz a Jesus uma pergunta fundamental: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" (Mc 12,28).

A indagação do escriba não é meramente acadêmica ou teórica. No contexto do judaísmo do primeiro século, com seus 613 mandamentos derivados da Torá, discernir uma hierarquia ou um princípio unificador era uma preocupação prática e espiritual. Mais do que isso, a pergunta do escriba toca no cerne da identidade religiosa de Israel: o que define a relação do povo com Deus e qual é a resposta apropriada a essa relação?

É neste momento que Jesus, com uma clareza e autoridade que transcendem as divisões religiosas de sua época, reafirma o Shemá Israel (Deuteronômio 6,4-5) como o maior mandamento, e o complementa com a injunção ao amor ao próximo (Levítico 19,18). Nesta síntese magistral, Jesus não apenas resume a lei judaica, mas revela a própria essência da lei divina e da ética do Reino de Deus.

A resposta de Jesus ao escriba, portanto, não é apenas mais um ensinamento entre muitos, mas uma declaração paradigmática que ilumina todo o seu ministério e mensagem. Ao colocar o amor a Deus e ao próximo no centro da vida religiosa e ética, Jesus oferece uma chave hermenêutica para compreender toda a Escritura e um princípio orientador para a vida de seus discípulos. Neste artigo, exploraremos as profundas implicações deste ensinamento, começando por situar o Shemá Israel em seu contexto judaico original.


ilustração da cena de Marcos 12:28b-34, onde Jesus ensina sobre o maior mandamento. A imagem mostra Jesus rodeado por escribas e seguidores, destacando a importância do amor a Deus e ao próximo. A arquitetura do Templo de Jerusalém ao fundo e a iluminação divina realçam a autoridade e serenidade de Jesus ao ensinar.

 

1. O SHEMÁ ISRAEL NO JUDAÍSMO

1.1. Origem e significado do Shemá (Deuteronômio 6,4-9)

O Shemá Israel, assim chamado por suas palavras iniciais em hebraico, tem sua origem no livro de Deuteronômio, o quinto livro da Torá. Encontrado em Deuteronômio 6,4-9, o Shemá é parte do discurso final de Moisés ao povo de Israel, antes de sua entrada na Terra Prometida.

As palavras iniciais do Shemá, "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é Um" (Dt 6,4), são uma afirmação fundamental do monoteísmo israelita. Elas proclamam não apenas a unicidade de Deus, mas também Seu relacionamento de pacto com Israel. O Deus que libertou Israel da escravidão no Egito e revelou Sua lei no Sinai é o único Deus verdadeiro, e Israel é chamado a amá-Lo e servi-Lo exclusivamente.

O Shemá prossegue instruindo Israel a amar a Deus com todo o coração, alma e força (Dt 6,5). Este amor não deve ser meramente um sentimento, mas um compromisso total que abrange todos os aspectos da vida. As palavras do Shemá devem estar no coração, ser ensinadas aos filhos, e ser lembradas constantemente, seja em casa ou fora, ao deitar-se e ao levantar-se (Dt 6,6-9).

1.2. Lugar central do Shemá na espiritualidade e liturgia judaica

Devido à sua importância teológica e seu lugar proeminente na Torá, o Shemá se tornou uma das orações mais centrais na espiritualidade e liturgia judaica. Observantes judeus recitam o Shemá duas vezes por dia, pela manhã e à noite, cumprindo o mandamento de falar dessas palavras "ao deitar-se e ao levantar-se" (Dt 6,7).

Na liturgia sinagogal, o Shemá é precedido e seguido por bênçãos, formando uma unidade litúrgica conhecida como Keriat Shemá. Sua recitação é considerada um ato de testemunho da fé em Deus e de aceitação de Seu reinado. Tradicionalmente, o Shemá é a primeira oração ensinada às crianças judias e as últimas palavras ditas antes da morte.

Além de seu uso na oração, o Shemá também é inscrito em pergaminhos colocados nas mezuzot (caixas fixadas nos batentes das portas) e nos tefilin (filactérios amarrados na testa e no braço durante a oração matinal). Essas práticas físicas refletem o mandamento de ter as palavras "por sinal na tua mão" e "por frontais entre os teus olhos" (Dt 6,8).

1.3. O Shemá como afirmação do monoteísmo e do pacto de Israel com Deus

Mais do que uma oração, o Shemá é uma declaração de fé e lealdade. Ao afirmar a unicidade de Deus, o Shemá se contrapõe ao politeísmo das nações vizinhas e reafirma o monoteísmo como fundamento da fé israelita. Esta fé em um Deus único está inextricavelmente ligada ao pacto que Deus estabeleceu com Israel no Sinai.

Ao chamar Israel a amar a Deus com todo o seu ser, o Shemá evoca a linguagem do pacto, que frequentemente é descrito como uma relação de amor entre Deus e Seu povo (por exemplo, Oseias 11,1). Este amor, porém, não é meramente emocional, mas se expressa na obediência aos mandamentos de Deus (Dt 11,1). Assim, o Shemá liga a fé em Deus à vida ética, fazendo da obediência um ato de amor e do amor a base da obediência.

É este entendimento do Shemá como síntese da fé e da ética judaica que Jesus evoca quando questionado sobre o maior mandamento. Ao afirmar o Shemá e ligá-lo ao amor ao próximo, Jesus não apenas reafirma sua centralidade, mas também revela seu significado mais profundo. É para este ensino de Jesus que nos voltamos a seguir.

 

2. JESUS E O SHEMÁ ISRAEL

2.1. Jesus reafirma o Shemá como o maior mandamento

Quando o escriba pergunta a Jesus qual é o primeiro de todos os mandamentos, Jesus responde citando o Shemá: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12,29-30). Ao fazer isso, Jesus reafirma a centralidade do Shemá na fé judaica e o valida como a declaração mais fundamental da relação de Israel com Deus.

A resposta de Jesus não é uma inovação, mas uma reafirmação da tradição judaica. Ao citar o Shemá, Jesus se coloca firmemente dentro do judaísmo de seu tempo, compartilhando sua fé monoteísta e sua compreensão da Torá. Ao mesmo tempo, ao ser questionado sobre o maior mandamento, Jesus atribui ao Shemá uma posição de suprema importância, fazendo dele não apenas um mandamento entre outros, mas o próprio fundamento da lei divina.

2.2. O amor total a Deus: coração, alma, entendimento e força

Na formulação de Jesus, o mandamento de amar a Deus é expandido em quatro dimensões: coração, alma, entendimento e força. Essa expansão, que combina elementos de Deuteronômio 6,5 e 10,12, enfatiza a totalidade e a integralidade do amor exigido.

Amar a Deus de todo o coração implica uma devoção interior, uma orientação fundamental da vontade e dos afetos em direção a Deus. Amar de toda a alma sugere uma entrega da própria vida, uma disposição de viver e morrer por Deus. Amar com todo o entendimento envolve a dimensão intelectual, reconhecendo a verdade de Deus com a mente e moldando os pensamentos de acordo com Sua vontade. E amar com toda a força indica um compromisso ativo, uma dedicação das energias e recursos a serviço de Deus.

Juntas, essas quatro dimensões abrangem toda a existência humana. Elas chamam a uma devoção que não é meramente parcial ou compartimentalizada, mas que integra todas as faculdades e aspectos da vida em um amor singular e total a Deus. Este é o tipo de amor que Jesus exemplifica e que Ele chama seus discípulos a abraçar.

2.3. Jesus acrescenta o amor ao próximo como inseparável do amor a Deus

Tendo afirmado o Shemá como o maior mandamento, Jesus vai além e acrescenta um segundo: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mc 12,31). Este mandamento, retirado de Levítico 19,18, não é uma reflexão tardia, mas é apresentado por Jesus como intrinsecamente ligado ao primeiro.

Ao colocar esses dois mandamentos lado a lado, Jesus sugere que eles são inseparáveis. Não se pode amar a Deus verdadeiramente sem amar o próximo, nem se pode amar o próximo de forma autêntica sem amar a Deus. O amor a Deus e o amor ao próximo são como duas faces da mesma moeda, duas expressões do mesmo compromisso fundamental.

Essa ligação intrínseca entre o amor a Deus e o amor ao próximo é uma marca distintiva do ensino de Jesus. Ela reflete a compreensão bíblica de que os seres humanos são criados à imagem de Deus (Gn 1,27) e que o amor ao próximo é, portanto, uma extensão natural do amor a Deus. Também antecipa o ensino de João de que "se alguém disser: 'Eu amo a Deus', e odiar a seu irmão, é mentiroso" (1 Jo 4,20).

2.4. O duplo mandamento do amor como síntese da Lei e dos Profetas

Após citar os dois mandamentos, Jesus faz uma declaração notável: "Não existe outro mandamento maior do que estes" (Mc 12,31). Com isso, Jesus sugere que esses dois mandamentos não são meramente os maiores entre outros, mas que eles resumem e abrangem todos os outros.

Essa ideia é elaborada mais explicitamente em Mateus 22,40, onde Jesus afirma: "Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas". Aqui, "Lei e Profetas" é uma forma de se referir a toda a Escritura hebraica, o Antigo Testamento. Ao fazer essa afirmação, Jesus está sugerindo que o duplo mandamento do amor é a chave hermenêutica para entender toda a revelação bíblica.

Isso não significa que os outros mandamentos sejam irrelevantes ou que possam ser descartados. Pelo contrário, sugere que todos os outros mandamentos devem ser interpretados e aplicados à luz desse duplo mandamento do amor. O amor a Deus e ao próximo se torna o princípio orientador que dá sentido e propósito a todos os outros preceitos da lei divina.

Assim, no ensino de Jesus, o Shemá Israel não é substituído, mas é reafirmado e aprofundado. Ao ligá-lo inseparavelmente ao amor ao próximo, Jesus revela o verdadeiro espírito da lei e oferece uma síntese poderosa da ética do Reino de Deus. É para as implicações éticas desse ensino que nos voltamos a seguir.

 

3. IMPLICAÇÕES ÉTICAS DO ENSINO DE JESUS

3.1. O amor como princípio orientador da ética cristã

O ensino de Jesus sobre o duplo mandamento do amor tem profundas implicações para a ética cristã. Ao colocar o amor a Deus e ao próximo no centro da vida moral, Jesus oferece um princípio orientador que transcende uma mera obediência a regras e prescrições. O amor se torna a base e a motivação para todas as ações éticas.

Isso não significa que as normas éticas específicas sejam irrelevantes, mas sim que elas devem ser interpretadas e aplicadas à luz do amor. O amor providencia o "porquê" por trás dos "o quês" da ética cristã. Ele demanda não apenas ações externas corretas, mas também atitudes e motivações internas adequadas. Uma ética baseada no amor busca não apenas cumprir a letra da lei, mas também encarnar seu espírito.

Além disso, o amor como princípio ético é ao mesmo tempo mais exigente e mais flexível do que um código legal rígido. Mais exigente porque o amor autêntico muitas vezes requer mais do que a mera observância de regras. Mais flexível porque o amor é capaz de se adaptar a situações complexas e de discernir a ação mais amorosa em contextos onde as regras podem ser ambíguas ou conflitantes.

3.2. Amar a Deus e ao próximo: inseparabilidade da espiritualidade e da ética

Ao ligar o amor a Deus e o amor ao próximo, Jesus também aponta para a inseparabilidade da espiritualidade e da ética. Não pode haver uma verdadeira espiritualidade que não se expresse em amor ao próximo, nem pode haver uma ética autêntica que não esteja enraizada no amor a Deus.

Isso desafia qualquer tendência a compartimentalizar a vida religiosa, tratando a adoração e a moralidade como esferas separadas. Na visão de Jesus, a vida espiritual e a vida ética são duas dimensões de uma única resposta ao amor de Deus. A oração e a contemplação devem levar à compaixão e à ação, enquanto o serviço ao próximo deve brotar de e levar a um relacionamento mais profundo com Deus.

Essa integração de amor a Deus e amor ao próximo também sugere que a ética cristã não é meramente uma questão de comportamento externo, mas de transformação interna. À medida que o amor a Deus molda o coração e a mente do crente, isso naturalmente se expressa em um amor crescente e em ações concretas em relação ao próximo.

3.3. O desafio de amar como Jesus amou

Embora o duplo mandamento do amor ofereça um princípio orientador para a ética cristã, ele também apresenta um desafio profundo. Pois o padrão para este amor não é outro senão o próprio amor de Jesus. Como João afirma: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3,16).

O amor que Jesus demonstra e exige não é um sentimento superficial ou uma tolerância passiva. É um amor que está disposto a sofrer, a se sacrificar, a colocar as necessidades do outro acima das próprias. É um amor que abraça os marginalizados, perdoa os inimigos e serve humildemente. É um amor que, em última análise, leva à cruz.

Amar como Jesus amou é um padrão intimidante, que expõe o egoísmo e a superficialidade do que muitas vezes passa por amor. Requer não apenas um esforço ético, mas uma transformação espiritual, à medida que os crentes são conformados cada vez mais à imagem de Cristo pelo poder do Espírito Santo. É um chamado a uma jornada de toda a vida de crescimento no amor.

3.4. O amor como marca distintiva dos discípulos de Jesus (João 13,35)

Dada a centralidade do amor no ensino de Jesus, não é de surpreender que Ele o identifique como a marca distintiva de seus seguidores. Como Ele diz em João 13,35: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros".

Esse amor mútuo não é meramente um sentimento caloroso, mas uma prática concreta que deve caracterizar a comunidade cristã. É um amor que transcende barreiras de etnia, classe e gênero, criando uma nova família baseada não em laços de sangue, mas no vínculo compartilhado com Cristo. É um amor que se expressa em perdão, serviço mútuo, generosidade e apoio nos momentos de necessidade.

Quando a comunidade cristã encarna esse tipo de amor, ela se torna um sinal poderoso do Reino de Deus no mundo. Seu amor mútuo não apenas atrai outros para Cristo, mas também oferece um modelo alternativo de relacionamentos humanos em um mundo muitas vezes marcado por egoísmo, divisão e exploração. Nesse sentido, a ética do amor não é apenas uma questão de santidade pessoal, mas também de testemunho e missão.

 

4. RELEVÂNCIA PARA A ESPIRITUALIDADE E A MISSÃO CRISTÃ

4.1. Centralidade do duplo mandamento do amor na vida cristã

O ensino de Jesus sobre o duplo mandamento do amor não é meramente uma doutrina teológica abstrata, mas um princípio que deve moldar todos os aspectos da vida cristã. Ele fornece o fundamento e a orientação tanto para a espiritualidade pessoal quanto para a missão da Igreja no mundo.

Na espiritualidade cristã, o amor a Deus e ao próximo não é um elemento opcional ou periférico, mas o próprio coração da vida de fé. É o padrão pelo qual todas as práticas espirituais - oração, adoração, estudo das Escrituras, etc. - devem ser medidas. Uma espiritualidade autêntica é aquela que nutre e é nutrida pelo amor, levando a um relacionamento cada vez mais profundo com Deus e a uma preocupação cada vez maior pelo bem-estar do próximo.

Ao mesmo tempo, o duplo mandamento do amor também fornece a motivação e a direção para a missão da Igreja no mundo. Se o amor está no centro da identidade de Deus e da vocação do povo de Deus, então a missão da Igreja é, em essência, uma missão de amor. É um chamado para encarnar e compartilhar o amor de Deus em palavra e ação, buscando a transformação de indivíduos, comunidades e estruturas à luz do Reino de Deus.

4.2. O amor como testemunho do Reino de Deus no mundo

Nesse sentido, o amor que Jesus exemplifica e exige de seus seguidores não é apenas um meio para um fim evangelístico, mas é em si mesmo um testemunho poderoso do Reino de Deus. Quando os cristãos amam como Jesus amou - perdoando inimigos, servindo os marginalizados, sacrificando-se pelos outros - eles tornam visível o tipo de mundo que Deus deseja, um mundo caracterizado pela justiça, compaixão e reconciliação.

Esse testemunho do amor é especialmente poderoso em um mundo marcado por divisão, violência e egoísmo. Ao encarnar um caminho alternativo, moldado pelo amor abnegado, os cristãos podem oferecer um vislumbre atraente e persuasivo da realidade transformadora do Reino de Deus. Seu amor pode não apenas atrair outros para Cristo, mas também desafiar e inspirar a sociedade em geral a imaginar e buscar um modo de vida diferente.

Claro, esse testemunho do amor não é sempre fácil ou bem recebido. Amar como Jesus amou pode levar ao sofrimento, rejeição e até mesmo perseguição. Ainda assim, é precisamente nessa vulnerabilidade que o poder subversivo do amor de Deus muitas vezes brilha mais claramente. Como a cruz de Cristo demonstra, é muitas vezes no amor que sofre que a vitória de Deus sobre o mal é mais evidente.

4.3. Chamado à unidade entre fé e vida, adoração e serviço

Em última análise, o ensino de Jesus sobre o duplo mandamento do amor é um chamado à integridade e à unidade na vida cristã. É um convite a superar qualquer dicotomia entre fé e obras, espiritualidade e ética, adoração e serviço. Assim como o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis, também a vida espiritual e a vida de serviço amoroso devem ser integradas.

Isso implica que cada aspecto da vida do crente - seja no trabalho, na família, na comunidade ou na igreja - deve ser vivido como uma resposta ao amor de Deus e como uma expressão de amor ao próximo. Significa buscar coerência entre o que se professa e o que se pratica, entre os valores que se afirma e as escolhas que se faz no dia a dia.

Esse chamado à unidade e integridade não é um fardo, mas um convite à liberdade e à plenitude. Pois é na resposta total ao amor de Deus, expressa no amor ao próximo, que os seres humanos encontram seu propósito mais profundo e sua alegria mais plena. É nesse alinhamento com o duplo mandamento do amor que a vida cristã encontra seu centro unificador e sua missão transformadora no mundo.

 

CONCLUSÃO

Ao longo deste artigo, exploramos o significado e as implicações do ensino de Jesus sobre o maior mandamento em Marcos 12,28b-34. Vimos como, ao ser questionado por um escriba, Jesus reafirma o Shemá Israel como a declaração fundamental da fé judaica e o maior de todos os mandamentos. Mas Jesus não para por aí. Ele acrescenta um segundo mandamento, o amor ao próximo, apresentando-o como inseparável do primeiro. Nessa síntese magistral, Jesus não apenas resume a Lei e os Profetas, mas revela o próprio coração da lei divina e da ética do Reino de Deus.

Esse duplo mandamento do amor não é meramente uma doutrina abstrata, mas um princípio que deve moldar todos os aspectos da vida cristã. Ele fornece o fundamento e a orientação tanto para a espiritualidade pessoal quanto para a missão da Igreja no mundo. Ao colocar o amor no centro, Jesus chama seus seguidores a uma fé que integra devoção a Deus e serviço ao próximo, adoração e ação, contemplação e compaixão.

Embora os contextos possam mudar, a relevância deste ensino permanece perene. Em um mundo ainda marcado por divisão, egoísmo e injustiça, o chamado a amar a Deus e ao próximo é tão urgente e transformador quanto era nos dias de Jesus. Quando os cristãos encarnam esse amor abnegado, eles não apenas encontram seu propósito mais profundo, mas também se tornam testemunhas poderosas do Reino de Deus, oferecendo um vislumbre de um mundo moldado pela graça e pela reconciliação de Deus.

Portanto, ao concluir nossa reflexão, somos convidados a abraçar novamente este duplo mandamento do amor. Somos chamados a amar a Deus com todo o nosso ser - coração, alma, entendimento e força - e a expressar esse amor em um compromisso concreto com o bem-estar de nosso próximo. Que possamos, pela graça de Deus, ser uma comunidade caracterizada por tal amor - um amor que transforma não apenas nossas próprias vidas, mas também o mundo ao nosso redor, para a glória de Deus e o avanço de Seu Reino. Pois, como Jesus nos lembra, não há mandamento maior do que estes.

 

ORAÇÃO DE ENCERRAMENTO

Deus de amor,

Que nos criaste por amor e para o amor,

Agradecemos-Te por Teu Filho Jesus Cristo,

Que nos revelou o verdadeiro significado do amor

Através de seus ensinamentos e exemplo.

 

Que Seu mandamento de amar-Te com todo nosso ser

E de amar nosso próximo como a nós mesmos

Esteja sempre gravado em nossos corações e mentes.

 

Dá-nos a graça de encarnar esse amor em todas as esferas de nossa vida -

Em nossa adoração e oração,

Em nossos relacionamentos e responsabilidades,

Em nosso serviço e testemunho no mundo.

 

Que nosso amor por Ti e pelos outros

Seja a marca distintiva de nossa fé,

E um sinal do Teu Reino de justiça, paz e alegria.

 

Capacita-nos, pelo poder do Teu Espírito,

A amar como Jesus amou,

Para que o mundo possa conhecer-Te

Através da vida que vivemos e do amor que compartilhamos.

 

Oramos em nome de Jesus,

Amém.


 

Aqui está o texto completo do Shemá Israel em hebraico, sua língua original, seguido da tradução para o português, com as referências bíblicas:

 

Hebraico:

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָֽד׃

וְאָ֣הַבְתָּ֔ אֵ֖ת יְהוָ֣ה אֱלֹהֶ֑יךָ בְּכָל־לְבָבְךָ֥ וּבְכָל־נַפְשְׁךָ֖ וּבְכָל־מְאֹדֶֽךָ׃

וְהָי֞וּ הַדְּבָרִ֣ים הָאֵ֗לֶּה אֲשֶׁ֨ר אָנֹכִ֧י מְצַוְּךָ֛ הַיּ֖וֹם עַל־לְבָבֶֽךָ׃

וְשִׁנַּנְתָּ֣ם לְבָנֶ֔יךָ וְדִבַּרְתָּ֖ בָּ֑ם בְּשִׁבְתְּךָ֤ בְּבֵיתֶ֙ךָ֙ וּבְלֶכְתְּךָ֣ בַדֶּ֔רֶךְ וּֽבְשָׁכְבְּךָ֖ וּבְקוּמֶֽךָ׃

וּקְשַׁרְתָּ֥ם לְא֖וֹת עַל־יָדֶ֑ךָ וְהָי֥וּ לְטֹטָפֹ֖ת בֵּ֥ין עֵינֶֽיךָ׃

וּכְתַבְתָּ֛ם עַל־מְזוּזֹ֥ת בֵּיתֶ֖ךָ וּבִשְׁעָרֶֽיךָ׃

 

(Deuteronômio 6:4-9)

 

Português:

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é Um.

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.

E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração.

Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.

Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos.

E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.

 

(Deuteronômio 6:4-9)

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