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INTRODUÇÃO
A devoção ao Coração de Maria é uma forma especial de veneração à Virgem Maria que ocupa um lugar de destaque na espiritualidade católica. Ela consiste em honrar o coração físico de Maria como símbolo de seu imenso amor por Deus e pela humanidade, bem como de todas as suas virtudes e perfeições interiores.
Essa devoção, profundamente enraizada na tradição da Igreja, tem atraído incontáveis fiéis ao longo dos séculos. Eles encontram no Coração de Maria um poderoso símbolo do amor materno e compassivo da Mãe de Deus, sempre pronta a interceder por seus filhos junto a seu Filho Jesus.
Aprovada e encorajada pelo Magistério, a devoção ao Coração Imaculado de Maria se difundiu amplamente, especialmente a partir das aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, em 1917. Desde então, ela tem sido uma fonte inesgotável de graças e consolação para o povo cristão, que recorre com confiança à proteção do Coração da Mãe celeste.
PARTE 1: A NATUREZA DA DEVOÇÃO
A devoção ao Coração de Maria é uma forma especial de veneração à Santíssima Virgem, assim como a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma forma especial de devoção a Cristo. Embora dirigida ao coração físico de Maria, esta devoção não se limita a ele, mas abrange tudo o que este Coração simboliza - o amor ardente de Maria por Deus e pelos homens, suas virtudes e toda a sua rica vida interior.
Podemos destacar dois elementos essenciais nesta devoção:
1. O Coração físico de Maria como símbolo:
- O coração de carne de Maria é venerado como um símbolo, um sinal sensível e concreto que nos remete a realidades espirituais.
- Não é o órgão físico em si que é o objeto do culto, mas aquilo que ele representa. O coração material é como um "sacramento", um sinal visível de uma realidade invisível.
- Venerar uma imagem do Coração de Maria é, portanto, um meio de elevar a mente e o coração para as perfeições interiores de Maria que esse Coração simboliza.
- Essa veneração do coração físico como símbolo encontra paralelo, por exemplo, na veneração da cruz, que não se detém na madeira em si, mas remete ao mistério da redenção.
- Desde a antiguidade, o coração é visto como a sede dos sentimentos e afetos. Portanto, o coração físico é um símbolo natural e eloquente do imenso amor contido no coração espiritual de Maria.
2. O que o Coração de Maria simboliza:
- O Coração de Maria é símbolo de todo o seu ser interior: seus sentimentos, virtudes, disposições, amor.
- Simboliza especialmente o imenso amor de Maria por Deus e por Jesus, bem como seu amor materno e compassivo para conosco.
- Representa também todas as virtudes que ornavam a alma de Maria: sua fé, esperança, caridade, humildade, obediência, pureza, paciência, fortaleza, etc.
- Remete, enfim, a toda a riquíssima vida interior de Maria, suas alegrias e dores, a íntima união de seu coração com o de Jesus.
- Ao venerarmos o Coração de Maria, portanto, estamos contemplando e honrando todo esse mundo interior da Mãe de Deus, aprendendo de suas virtudes e confiando em seu amor.
Em suma, o Coração físico de Maria é venerado como símbolo eloquente de seu Coração espiritual, ou seja, de todo o seu admirável mundo interior que ele representa e a que nos remete. Esses dois elementos são essenciais e inseparáveis na devoção ao Coração de Maria.
A devoção ao Coração de Maria se assemelha à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, pois ambas honram o símbolo do amor divino. Contudo, há algumas diferenças:
- Na devoção ao Coração de Jesus, o foco principal é o amor d'Ele por nós, muitas vezes desprezado. Já na devoção ao Coração de Maria, o foco está no amor de Maria por Jesus e por Deus, e secundariamente em seu amor por nós.
- Na devoção ao Coração de Maria, a imitação de suas virtudes tem um papel tão central quanto o amor, enquanto na devoção ao Coração de Jesus o amor é o elemento principal.
PARTE 2: A HISTÓRIA DA DEVOÇÃO
As origens da devoção ao Coração de Maria remontam aos primeiros séculos do cristianismo. Já nos Evangelhos encontramos passagens que apontam para o Coração de Maria, como quando São Lucas menciona duas vezes que Maria conservava todos os acontecimentos e palavras de Jesus em seu coração (Lc 2,19.51). Também o relato da profecia de Simeão, de que uma espada transpassaria a alma de Maria (Lc 2,35), foi interpretado pelos Padres da Igreja como uma referência às dores que o Coração da Mãe de Deus sofreria, unida a seu Filho.
Na Idade Média, a devoção se desenvolveu gradualmente, sobretudo no ambiente dos mosteiros beneditinos e cistercienses, através da influência de santos como Anselmo, Bernardo, Matilde e Gertrudes. São Bernardo, em um de seus sermões, fala das virtudes do Coração de Maria. Santa Matilde e Santa Gertrudes tiveram visões do Coração de Maria e contribuíram para difundir a devoção através de seus escritos e experiências místicas.
Mas foi no século XVII que a devoção ganhou um grande impulso, graças sobretudo a São João Eudes. Ele foi um incansável propagador do culto aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, escreveu obras sobre o tema e chegou a compor uma missa e um ofício litúrgico em honra do Coração de Maria. Em 1648, celebrou com grande solenidade a primeira festa litúrgica do Coração de Maria, que depois se espalhou para várias dioceses da França.
Outro fator que muito contribuiu para a difusão da devoção foram as aparições de Nossa Senhora a Santa Margarida Maria Alacoque em Paray-le-Monial, a partir de 1673. Nessas manifestações, Jesus mostrou seu Coração a Margarida Maria com o Coração de sua Mãe, e pediu que ambos os Corações fossem honrados com um culto de amor e reparação.
A partir de então, a devoção se espalhou rapidamente, sobretudo através dos esforços dos padres da Companhia de Jesus e das religiosas da Visitação. Em 1799, o Papa Pio VI aprovou a festa do Coração de Maria para algumas dioceses, e em 1805 Pio VII estendeu a aprovação, permitindo que a festa fosse celebrada em um número maior de localidades.
Com o tempo, a festa foi sendo cada vez mais adotada, até que em 1944 o Papa Pio XII consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria e estendeu a festa para toda a Igreja, fixando sua data em 22 de agosto. Hoje, a devoção ao Coração de Maria é amplamente difundida no povo cristão, que encontra nesse símbolo de amor um caminho seguro para chegar a Jesus e alcançar as graças de Deus.
CONCLUSÃO
Ao longo deste artigo, exploramos em profundidade a bela devoção ao Imaculado Coração de Maria. Vimos que esta devoção consiste em honrar o coração físico de Maria como símbolo de seu imenso amor por Deus e pela humanidade, bem como de todas as suas virtudes e perfeições interiores.
Traçamos também a história desta devoção, desde suas raízes nos primeiros séculos do cristianismo, passando por seu desenvolvimento gradual na Idade Média através da influência de grandes santos, até sua propagação mais ampla a partir do século XVII graças aos esforços de São João Eudes e outros, chegando enfim à aprovação da festa litúrgica pela Igreja e sua difusão mundial especialmente após as aparições de Fátima.
Contemplar e venerar o Coração de Maria é adentrar no íntimo da Mãe de Deus para maravilhar-se com as perfeições que a graça operou em seu coração e para buscar imitar suas virtudes. É unir-se aos sentimentos e intenções deste coração tão cheio de amor por Deus e por nós, para amar a Jesus com o mesmo amor com que Ela o amou.
Algumas práticas devocionais concretas relacionadas ao Imaculado Coração de Maria incluem a celebração de sua festa litúrgica, a consagração a este Coração, a reparação pelas ofensas cometidas contra ele, especialmente na devoção dos primeiros sábados, e o uso de imagens e medalhas que o representam.
Atualmente, marcados por tantos desafios e ataques à fé e à moral, a devoção ao Coração Imaculado de Maria se mostra particularmente necessária e valiosa. Recorrer à proteção deste Coração maternal, refúgio seguro em meio às tempestades, é um meio poderoso de atrair a misericórdia de Deus sobre o mundo e sobre as almas.
Portanto, não poderíamos encerrar sem encorajar vivamente a prática desta devoção tão rica e profunda, que tantas graças têm trazido às almas ao longo da história. Recorrer e honrar o Coração Imaculado de Maria, Refúgio dos pecadores e nossa doce esperança, é um meio seguro de avançar no amor de Deus e na santidade, sob o olhar maternal d'Aquela que é o Caminho vivo para chegar a Jesus. Que todos abracem com fervor esta bela devoção mariana, tão querida da Igreja e tão eficaz para a nossa santificação!
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