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A Dualidade do Amor: Análise das Duas Cidades em “A Cidade de Deus” de Santo Agostinho


ARTIGO CIDADE DE DEUSCaminho de Fé

 

INTRODUÇÃO

Santo Agostinho, um dos mais proeminentes pensadores cristãos do início da era medieval, deixou um legado filosófico e teológico que continua a influenciar o mundo até hoje. Sua obra seminal, "A Cidade de Deus", escrita entre 413 e 426 d.C., é um dos textos mais fundamentais na tradição cristã ocidental, concebida em um período de grande turbulência e incerteza — marcado pelo saque de Roma pelos visigodos em 410 d.C. Este evento catastrófico inspirou Agostinho a refletir sobre a natureza e o destino da sociedade humana sob a ótica cristã, culminando em uma das análises mais profundas sobre a civilização e a moralidade.

"A Cidade de Deus" de Agostinho não apenas contesta a crença romana de que a prosperidade do império estava intrinsecamente ligada ao paganismo, mas também estabelece um diálogo entre a cidade celestial e a terrena, fundadas em dualidades amorosas distintas. Agostinho propõe que existem, fundamentalmente, duas cidades: a Cidade de Deus, construída sobre o amor de Deus até o desprezo de si, e a Cidade dos Homens, erguida sobre o amor de si até o desprezo de Deus. Este contraste não apenas serve como uma crítica à vaidade e corrupção humanas, mas também como uma meditação sobre a natureza da graça, redenção e a ordem divina.

Explorando essas duas "cidades", Agostinho tece uma teologia da história humana, onde a jornada espiritual e a moralidade dos indivíduos definem a sua adesão a uma das duas cidades. Através deste prisma, "A Cidade de Deus" se desdobra como uma obra que transcende a crítica de seu tempo para questionar os fundamentos de todas as sociedades humanas, sugerindo que a verdadeira paz e justiça podem ser alcançadas apenas sob os preceitos divinos que regem a cidade celestial.

Imagem que contrasta visualmente dois mundos distintos: à direita, uma grande catedral inspirada na Catedral de Milão representa a Cidade Celestial, e à esquerda, um enorme arranha-céu corporativo moderno simboliza a Cidade Terrestre. A composição inclui elementos simbólicos e uma transição do crepúsculo para o amanhecer no céu, encarnando as dualidades teológicas e filosóficas discutidas por Santo Agostinho.

 

CONTEXTO HISTÓRICO

"A Cidade de Deus" de Santo Agostinho é inseparável do turbulento contexto histórico em que foi concebida, um período marcado pela desintegração progressiva do Império Romano no Ocidente. As primeiras décadas do século V viram Roma cambalear sob o peso das invasões bárbaras, culminando com o saque da cidade em 410 d.C. pelos visigodos liderados por Alarico. Este evento não apenas abalou as fundações físicas de Roma, mas também as convicções espirituais e políticas de seu império.

Para os romanos e, por extensão, para os cristãos que haviam se integrado profundamente na estrutura social e política do império, o saque representava uma crise existencial profunda. A queda de Roma foi percebida por muitos contemporâneos como um sinal de que os deuses pagãos estavam punindo o Império por sua adoção do cristianismo. Em resposta a essa crise de fé e identidade, Santo Agostinho começou a redigir "A Cidade de Deus", uma obra que não apenas defendia o cristianismo contra as críticas dos pagãos, mas também rearticulava a visão do mundo cristão frente a essa nova realidade histórica.

Agostinho argumentava que a destruição material de Roma era irrelevante para a verdadeira natureza do Reino de Deus. Ele aproveitou o contexto das invasões bárbaras para separar a ideia de um império terreno e passageiro do conceito de uma cidade divina e eterna, governada pelos preceitos de fé, esperança e caridade. Este enquadramento não só reforçou a fé cristã diante das adversidades mas também proporcionou aos cristãos uma perspectiva que transcendia as aflições temporais e políticas, orientando-os a focar na eternidade da Cidade de Deus, contrastando-a com a efemeridade das cidades humanas, que agora pareciam mais vulneráveis do que nunca.

 

FILOSOFIA DE AGOSTINHO

A filosofia de Santo Agostinho representa uma síntese pioneira entre o pensamento cristão e as tradições filosóficas greco-romanas, especialmente o neoplatonismo. Antes de sua conversão ao cristianismo, Agostinho estudou extensivamente a filosofia grega, o que profundamente influenciou seu pensamento teológico e filosófico posterior. As ideias neoplatônicas, em particular, exerceram uma influência substancial sobre ele, fornecendo um quadro conceitual através do qual ele pôde interpretar os escritos cristãos de uma nova maneira.

O neoplatonismo, com sua ênfase na existência de um único princípio fundamental ou "o Um", de onde todas as formas de realidade emanam, ajudou Agostinho a articular a ideia de Deus como o ser supremo e a fonte última de toda a bondade e existência. Essa influência é evidente na maneira como Agostinho fala sobre Deus em "A Cidade de Deus", onde Deus não é apenas o criador, mas também o sustentador constante da ordem cósmica e moral.

Além disso, Agostinho transformou a ideia neoplatônica de ascensão da alma em direção a uma união mística com "o Um" em uma jornada espiritual rumo a um relacionamento mais íntimo e amoroso com Deus, conforme revelado através de Cristo. Neste contexto, ele reinterpretou a doutrina da iluminação, uma ideia central do neoplatonismo, argumentando que o verdadeiro conhecimento de Deus e das verdades espirituais só pode ser alcançado através da graça divina.

Por meio dessas integrações, Agostinho estabeleceu um diálogo entre o cristianismo e a filosofia grega que não apenas defendeu a fé cristã contra seus detratores intelectuais, mas também enriqueceu o próprio cristianismo com um vigor filosófico que permitiu a seus seguidores entender e explicar sua fé de maneiras mais profundas e sofisticadas. Assim, sua obra não somente dialoga com os pensamentos da sua época mas também estabelece bases para discussões teológicas e filosóficas futuras.

 

ANÁLISE DAS DUAS CIDADES

1. A CIDADE TERRESTRE

A Cidade Terrestre, como descrita por Santo Agostinho em "A Cidade de Deus", é fundamentada no amor de si até o desprezo de Deus. Esta cidade simboliza a ordem secular e materialista, focada nas paixões humanas e na busca incessante por poder e reconhecimento. Agostinho descreve essa cidade não apenas como uma entidade política ou social, mas como uma condição espiritual e moral, refletindo as escolhas e os valores de seus habitantes.

Definição e características

A Cidade Terrestre é marcada por um amor egocêntrico que eleva o desejo individual e a ambição acima de todas as outras considerações, inclusive as divinas. Para Agostinho, esse amor de si mesmo manifesta-se na rejeição da autoridade de Deus e na glorificação de desejos mundanos que afastam os indivíduos de qualquer consideração espiritual verdadeira. Os cidadãos desta cidade vivem de acordo com os padrões do mundo, perseguindo o sucesso terreno como se fosse o único fim válido. Agostinho vê essa abordagem da vida como fundamentalmente falha, pois ela é construída sobre o orgulho e o egoísmo, que eventualmente levam ao isolamento espiritual e à desordem moral.

Glorificação de si mesma e busca pela glória dos homens

A Cidade Terrestre glorifica-se a si mesma através do acúmulo de poder, riqueza e influência, valorizando estes atributos acima da virtude ou da santidade. Essa glorificação manifesta-se na constante busca de aprovação e admiração dos outros, um tema recorrente na discussão agostiniana sobre o orgulho. A necessidade de reconhecimento e o desejo de ser venerado se tornam os motores que impulsionam as ações dos indivíduos, muitas vezes à custa de princípios éticos e espirituais.

Impacto do amor próprio nos líderes e estruturas de poder

O amor de si que define a Cidade Terrestre tem implicações profundas para seus líderes e estruturas de poder. Agostinho argumenta que, quando os líderes são guiados pelo orgulho e pela auto-glorificação, eles tendem a dominar em vez de servir. Esta dinâmica cria sistemas de poder que são intrinsecamente opressivos e corruptos, pois são baseados na dominação e no controle, em vez de na justiça ou no bem comum. Tais líderes veem o poder como um fim em si mesmo, e não como um meio para promover a ordem e o bem-estar social.

Este amor desordenado pelo poder muitas vezes leva ao que Agostinho chama de "paixão de dominar", uma condição na qual a dominação sobre os outros é vista como o principal indicador de sucesso e poder. Essa obsessão pode desestabilizar sociedades, promover injustiças e levar a guerras e conflitos, à medida que os líderes lutam entre si pelo domínio supremo, ignorando os princípios éticos e as leis divinas.

Além disso, a busca incessante por glória terrena fomenta um ciclo vicioso de orgulho e competição, no qual cada sucesso apenas infla o ego, levando a mais desejos de poder e reconhecimento. Esse ciclo não apenas aliena os indivíduos de Deus, mas também cria uma sociedade baseada no conflito e na competição, em vez da cooperação e harmonia.

A análise de Santo Agostinho sobre a Cidade Terrestre serve como uma crítica penetrante às tendências humanas para a corrupção, o orgulho e a autogratificação. Ele nos desafia a refletir sobre a sustentabilidade de tais caminhos e sobre o verdadeiro custo de uma vida vivida longe dos preceitos divinos e dos valores espirituais verdadeiros.

2. A CIDADE CELESTIAL

Em contraste com a Cidade Terrestre, Santo Agostinho descreve a Cidade Celestial em sua obra "A Cidade de Deus" como um reino fundamentado no amor de Deus até ao desprezo de si mesmo. Esta cidade não é uma localidade física, mas uma representação espiritual da sociedade ideal, onde o amor divino orienta todas as ações e relações humanas. A Cidade Celestial reflete a ordem celestial e as verdades eternas, operando sob princípios que transcendem a mundanidade e a corrupção.

Definição e características

A Cidade Celestial é caracterizada pelo amor abnegado e pela completa dedicação a Deus. Nela, o amor de Deus prevalece sobre todos os desejos egoístas, levando os seus habitantes a desprezarem seus próprios interesses em favor de um bem maior. Este amor não é passivo; é um amor ativo que se expressa em atos de misericórdia, justiça e humildade. Agostinho vê essa cidade como a verdadeira expressão da ordem divina na Terra, onde os valores espirituais e morais orientam a vida em comunidade.

A celebração da glória em Deus e não em si próprio

Na Cidade Celestial, a glória é inteiramente dirigida a Deus. Ao contrário da Cidade Terrestre, onde os indivíduos buscam reconhecimento e admiração para si mesmos, na Cidade Celestial, todas as conquistas e todas as honras são vistas como manifestações da graça divina. Os habitantes dessa cidade entendem que qualquer virtude ou sucesso que possuam derivam diretamente de Deus e, portanto, devem ser usados para glorificar a Ele, não a si mesmos. Este reconhecimento resulta em uma comunidade onde o orgulho e a vaidade são substituídos pela gratidão e pelo louvor.

A dinâmica do serviço e da caridade entre os líderes e os seguidores

A liderança na Cidade Celestial é exercida através do serviço e da caridade. Agostinho postula que, nesta cidade, os líderes são servos dos seus povos, guiando-os não por ambição ou desejo de poder, mas por amor e dedicação ao bem-estar dos outros. A autoridade é exercida com humildade e responsabilidade, sempre com o objetivo de cultivar uma comunidade que vive os preceitos de Cristo. Além disso, a obediência dos seguidores não é forçada, mas um reflexo de respeito e amor mútuo, onde cada indivíduo reconhece e aceita seu papel na promoção do bem comum.

A verdadeira sabedoria e piedade como fundamentos desta cidade

A verdadeira sabedoria, na Cidade Celestial, é entendida como o conhecimento de Deus e a compreensão de suas leis e mandamentos. Esta sabedoria não é meramente intelectual; é uma sabedoria que permeia a maneira de viver, influenciando todas as decisões e ações. A piedade, como fundamento dessa cidade, envolve uma adoração devota e contínua a Deus, que se manifesta em uma vida de oração, adoração e serviço. A piedade aqui é a expressão prática do amor a Deus, uma força que motiva os cidadãos a viverem vidas retas e justas, sempre em busca de refletir na Terra a ordem celestial.

A Cidade Celestial, conforme delineada por Santo Agostinho, serve como um modelo ideal para a existência humana, propondo uma sociedade baseada no amor divino, na humildade, no serviço e na comunhão espiritual. Essa cidade não apenas orienta os cristãos na sua jornada espiritual mas também oferece um contraponto às tendências egoístas e corruptíveis da humanidade, destacando um caminho de vida que é verdadeiramente enriquecido e guiado pela presença e pelo amor de Deus.

 

CONTRASTE E IMPLICAÇÕES TEOLÓGICAS

Santo Agostinho, em "A Cidade de Deus", estabelece um contraste profundo entre as duas cidades — a Celestial e a Terrestre — cada uma fundada em um tipo de amor radicalmente diferente. Essa dualidade serve não apenas para diferenciar os tipos de amor, mas também para iluminar as consequências teológicas e práticas desses amores para a vida humana e a sociedade.

Contraste entre os amores que fundam as duas cidades

A Cidade Terrestre é fundada no amor de si mesmo até o desprezo de Deus. Este amor é essencialmente autocentrado e leva à busca incessante por poder, prazer e reconhecimento pessoal, ignorando os mandamentos divinos e as necessidades alheias. Em contraste, a Cidade Celestial é edificada sobre o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo, um amor que transcende o ego e busca a glorificação de Deus acima de tudo. Este amor altruísta promove a caridade, a justiça e a humildade, orientando as pessoas a viverem de maneira que reflete a vontade divina e não as paixões humanas.

Discussão sobre a idolatria e a verdadeira adoração segundo Agostinho

Agostinho vê a idolatria como uma característica definidora da Cidade Terrestre. A idolatria, para ele, não se limita apenas à adoração de ídolos pagãos; ela inclui também a adoração de qualquer coisa que substitua Deus no coração dos indivíduos — seja poder, riqueza, ou mesmo o ego. A verdadeira adoração, em contraposição, ocorre na Cidade Celestial e é direcionada exclusivamente a Deus. Ela é uma adoração que reconhece e celebra a soberania e a graça de Deus, expressa através de uma vida de fé e obediência aos Seus mandamentos. Agostinho enfatiza que a verdadeira adoração a Deus é acompanhada de um reconhecimento da própria pequenez e da necessidade de Deus, um tema que ressoa profundamente com sua própria experiência de conversão.

Reflexão sobre as consequências espirituais e sociais dos dois tipos de amor

As implicações dos dois tipos de amor delineados por Agostinho têm profundas ramificações tanto espirituais quanto sociais. O amor próprio que define a Cidade Terrestre leva a uma série de consequências espirituais negativas, como o afastamento de Deus, a perda de sentido espiritual e um enfraquecimento moral que pode permeiar toda a sociedade. As práticas sociais baseadas em tal amor são frequentemente marcadas por injustiça, desigualdade e conflito, pois cada indivíduo ou grupo busca seus próprios interesses à custa dos outros.

Por outro lado, o amor de Deus que fundamenta a Cidade Celestial promove uma comunidade baseada na solidariedade, na justiça e no serviço mútuo. Espiritualmente, esse amor orienta as almas para a salvação e para uma relação mais profunda e autêntica com Deus, culminando em uma sociedade que reflete os valores do Reino de Deus. Assim, a vida na Cidade Celestial tem como objetivo não apenas a santificação pessoal, mas também a transformação social, onde as estruturas de poder e as relações humanas são permeadas por princípios cristãos.

Ao contrastar essas duas cidades, Agostinho não apenas oferece uma crítica da sociedade romana de sua época, mas também proporciona uma visão atemporal que desafia as futuras gerações a examinar as bases de suas próprias culturas e sociedades. Ele nos convida a refletir sobre o tipo de amor que fundamenta nossas vidas e nossas comunidades, enfatizando que a escolha entre os dois tipos de amor tem implicações duradouras para nosso destino tanto neste mundo quanto no próximo.

 

RELEVÂNCIA CONTEMPORÂNEA E APLICAÇÕES PRÁTICAS

Os conceitos delineados por Santo Agostinho em "A Cidade de Deus" sobre as duas cidades fundamentadas em diferentes tipos de amor continuam a ter uma profunda relevância para os desafios contemporâneos da fé, política e sociedade. Em um mundo onde o individualismo e o materialismo frequentemente predominam, a distinção entre o amor de si até ao desprezo de Deus e o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo oferece uma lente crítica através da qual podemos examinar nossas prioridades e valores.

Aplicação aos desafios modernos da fé

Na esfera da fé, muitos enfrentam o desafio de equilibrar as exigências materiais da vida com a busca espiritual. A Cidade Terrestre reflete-se na tentação de reduzir a religião a uma série de rituais desprovidos de significado espiritual profundo ou de transformar a fé em uma mercadoria ou status social. Em contraste, a Cidade Celestial nos lembra da essência do cristianismo, que é o amor abnegado e a dedicação a Deus, que deve permeiar todas as nossas ações e interações.

Exemplos contemporâneos na política e sociedade

Politicamente, o contraste entre as duas cidades é visível nos sistemas de governança que privilegiam o poder e a riqueza sobre o bem-estar do povo. Os líderes que personificam a Cidade Terrestre muitas vezes buscam o poder como um fim em si mesmos, enquanto que aqueles inspirados pela Cidade Celestial veem a liderança como uma oportunidade de servir e promover o bem comum. Socialmente, este contraste é evidente na crescente disparidade entre ricos e pobres, onde o amor de si promove a acumulação de riqueza às custas da equidade e da justiça social.

Reflexão sobre os dilemas contemporâneos

Os dilemas entre o amor de si e o amor de Deus são visíveis em questões como a crise ambiental, onde o consumo desenfreado (um produto do amor de si) contrasta com chamados para a sustentabilidade e cuidado com a criação de Deus (um reflexo do amor de Deus). Da mesma forma, na vida pessoal, o equilíbrio entre buscar sucesso pessoal e manter a integridade e o compromisso com valores mais elevados reflete o eterno conflito entre essas duas orientações amorosas.

Ao considerar esses conceitos, percebemos que Agostinho não apenas ofereceu uma crítica de sua própria época, mas também um quadro valioso para entender e responder aos desafios de qualquer era, incluindo a nossa.

 

CONCLUSÃO

A obra "A Cidade de Deus" de Santo Agostinho permanece um marco teológico e filosófico, cujas discussões sobre as duas cidades — a Celestial e a Terrestre — oferecem um profundo entendimento sobre a natureza humana e a sociedade. Agostinho delineia essas duas cidades como sendo fundamentadas em dois tipos distintos de amor: o amor de si até ao desprezo de Deus, que caracteriza a Cidade Terrestre, e o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo, que define a Cidade Celestial. Enquanto a primeira é marcada pela busca egoísta de poder e prazer, a segunda é guiada pela busca altruísta da santidade e da justiça.

Esses conceitos não apenas servem para interpretar os conflitos e as tensões da época de Agostinho, mas também continuam relevantes para a análise das questões modernas. Em uma era onde o individualismo e o materialismo muitas vezes prevalecem, as reflexões de Agostinho sobre a verdadeira adoração e o serviço humilde são especialmente pertinentes. Suas ideias nos desafiam a avaliar as fundações sobre as quais construímos nossas vidas e nossas sociedades.

A mensagem perene de Agostinho nos lembra que a escolha entre esses dois tipos de amor não é apenas uma questão teológica abstrata, mas uma decisão prática e diária que tem implicações reais e duradouras. A maneira como escolhemos amar pode determinar a direção de nossas vidas e moldar o tipo de sociedade em que vivemos.

Encerrando, uma citação de Agostinho reflete a essência do capítulo analisado e a escolha que todos nós enfrentamos: "Assim, dois amores construíram duas cidades: a terrestre, pelo amor de si até o desprezo de Deus; a celestial, pelo amor de Deus até o desprezo de si." Esta reflexão encapsula o desafio perene apresentado em sua obra, instigando-nos a buscar não o que é temporal e passageiro, mas o que é eterno e divino.

 

REFERÊNCIAS

Para a elaboração deste artigo sobre as duas cidades descritas por Santo Agostinho em "A Cidade de Deus", as seguintes fontes foram consultadas e serviram como base para a compreensão e análise dos conceitos apresentados:

1. Agostinho, Santo. "A Cidade de Deus." - Esta obra principal de Santo Agostinho é a fonte primária do conceito das duas cidades, a Terrestre e a Celestial, e foi amplamente utilizada para extrair os detalhes e argumentos apresentados no artigo.

2. Brown, Peter. "Augustine of Hippo: A Biography." - Esta biografia de Santo Agostinho oferece insights valiosos sobre o contexto histórico e pessoal em que "A Cidade de Deus" foi escrita, ajudando a entender as motivações e as circunstâncias da época de Agostinho.

3. Fitzgerald, Allan. "Augustine Through the Ages: An Encyclopedia." - Este compêndio oferece uma visão abrangente das ideias teológicas e filosóficas de Agostinho, incluindo discussões detalhadas sobre temas como a idolatria e a verdadeira adoração.

4. O'Donnell, James J. "Augustine: A New Biography." - A biografia de O'Donnell proporciona uma visão moderna sobre Agostinho e suas obras, com interpretações que ajudam a conectar seus escritos com questões contemporâneas.

5. TeSelle, Eugene. "Augustine the Theologian." - Este livro fornece uma análise profunda das teorias teológicas de Agostinho, incluindo suas concepções sobre o amor, a sociedade e a ética, que são fundamentais para compreender as duas cidades.

6. Wetzel, James. "Augustine and the Limits of Virtue." - Wetzel explora as concepções de virtude e moralidade em Agostinho, que são essenciais para entender a distinção entre os amores que fundamentam a Cidade Terrestre e a Celestial.

Essas fontes fornecem um amplo contexto teológico, filosófico e histórico que enriquece a análise das ideias de Agostinho e destaca sua relevância perene, oferecendo uma base sólida para a discussão das implicações dessas ideias para os desafios modernos da fé, política e sociedade.


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