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A Amizade Cristã Segundo João 15,15: Fundamentos Bíblicos e Práticas Espirituais


ARTIGO - AMIZADE CRISTÃCaminho de Fé

 

INTRODUÇÃO

A amizade é um dos valores mais preciosos e universais na experiência humana, sendo fundamental tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para a construção de comunidades saudáveis e solidárias. No contexto bíblico e cristão, a amizade ganha uma dimensão ainda mais profunda, pois é vista como um reflexo do amor divino e um caminho para a santificação mútua. Jesus Cristo, ao longo de Seu ministério terreno, deu grande ênfase à importância das relações interpessoais, culminando em um dos versículos mais emblemáticos sobre o tema: João 15,15. Nesta passagem, Jesus declara: "Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas vos chamei amigos, porque vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai."

Este artigo tem como objetivo explorar João 15,15 e suas implicações para a amizade, tanto no relacionamento entre Deus e os homens quanto nas relações humanas. A análise aprofundada desse versículo nos permitirá compreender como Jesus redefine a amizade, elevando-a a um nível de intimidade e revelação divina. Além disso, buscaremos aplicar esses princípios à amizade cristã, proporcionando insights práticos e espirituais para fortalecer nossos vínculos interpessoais à luz do ensinamento de Cristo.

O artigo será estruturado em duas partes principais. Na primeira, realizaremos uma análise bíblica detalhada de João 15,15, considerando seu contexto histórico, literário e teológico, e enriquecendo a interpretação com comentários dos Santos Padres. Na segunda parte, extrapolaremos os ensinamentos do versículo para a amizade entre as pessoas, destacando os fundamentos da amizade cristã e oferecendo reflexões práticas para a vida cotidiana. Assim, pretendemos mostrar como a amizade, inspirada por Jesus, pode transformar nossas relações e nos aproximar mais de Deus e uns dos outros.

imagem que ilustra o artigo sobre a amizade com Deus e entre as pessoas segundo João 15,15. Esta cena da Última Ceia simboliza a amizade e a intimidade entre Jesus e Seus discípulos

PARTE 1: ANÁLISE BÍBLICA DE JOÃO 15,15

CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO

João 15,15 está situado em um momento crucial do Evangelho de São João: o discurso de despedida de Jesus durante a Última Ceia. Este discurso se estende dos capítulos 13 a 17, onde Jesus se prepara para Sua iminente paixão e morte, fornecendo ensinamentos finais e confortando Seus discípulos. A Última Ceia não é apenas uma refeição; é um evento carregado de significados teológicos profundos, sendo a instituição da Eucaristia e a ocasião em que Jesus lava os pés dos discípulos, simbolizando o serviço e a humildade.

O discurso de despedida tem uma importância singular tanto para os discípulos quanto para a Igreja primitiva. Para os discípulos, essas palavras são um legado espiritual e moral que os prepararia para a vida sem a presença física de Jesus. Eles são encorajados a permanecer unidos, a amar uns aos outros e a confiar na promessa do Espírito Santo, que os guiará na verdade e os consolará. Esse discurso também contém a promessa da vinda do Espírito Santo, o Paráclito, que seria fundamental para a missão apostólica após a ascensão de Jesus.

Para a Igreja primitiva, o discurso de despedida serviu como uma fonte vital de instruções e encorajamento. Em tempos de perseguição e desafios, as palavras de Jesus lembravam aos primeiros cristãos a necessidade de perseverança, amor mútuo e fidelidade aos ensinamentos recebidos. Este legado ajudou a moldar a identidade comunitária e missionária da Igreja nascente.

O contexto histórico da Última Ceia é carregado de tensão e antecipação. Celebra-se durante a Páscoa judaica, uma festa que comemora a libertação do povo de Israel do cativeiro no Egito. Jesus e Seus discípulos estão em Jerusalém, e a cidade está cheia de peregrinos. A conspiração para prender Jesus já está em andamento, e Ele está plenamente consciente do que está por vir. Neste ambiente de expectativa e ansiedade, Jesus aproveita para transmitir Seus ensinamentos mais profundos e essenciais, preparando Seus seguidores para a missão que terão que continuar após Sua partida.

Compreender este contexto histórico e literário é crucial para apreciar a profundidade de João 15,15, onde Jesus redefine a relação com Seus discípulos, elevando-a de servidão a uma amizade íntima e reveladora. Este versículo, portanto, é uma chave para entender a natureza do relacionamento que Jesus deseja ter com todos os que O seguem, um relacionamento marcado pela intimidade, conhecimento e amor profundo.

 

EXEGESE DO TEXTO

Texto Bíblico

"Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas vos chamei amigos, porque vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai." (João 15,15)

Fidelidade ao Texto

Para entender plenamente João 15,15, é fundamental considerar a literalidade e o contexto em que Jesus proferiu essas palavras. Ele está falando aos Seus discípulos durante a Última Ceia, um momento de despedida e preparação para Sua paixão iminente. Jesus faz uma distinção clara entre dois tipos de relacionamento: o de servo e o de amigo. Ele explica que os discípulos não são mais servos, pois o servo não está ciente dos planos de seu senhor. Em vez disso, Jesus os chama de amigos, porque Ele lhes revelou tudo o que ouviu de Seu Pai. Esse versículo enfatiza a transformação do relacionamento entre Jesus e Seus seguidores, de uma obediência cega e distante para uma comunhão íntima e baseada no conhecimento mútuo.

Termos-Chave

"Servos" vs. "Amigos": Mudança de Status 

No contexto bíblico, o termo "servo" (do grego "doulos") refere-se a alguém que está sob a autoridade e serviço de um senhor. O servo obedece ordens sem necessidade de compreender os motivos ou planos do seu mestre. Em contraste, o termo "amigo" (do grego "philos") implica um relacionamento de confiança mútua, carinho e comunicação. Ao declarar que os discípulos não são mais servos, Jesus indica uma mudança fundamental no status deles. Eles não são mais meros seguidores que obedecem sem questionar, mas são amigos que compartilham de uma relação íntima com Ele, baseada na confiança e no amor.

"Dei a Conhecer": O Papel da Revelação e do Conhecimento na Amizade com Cristo 

A frase "dei a conhecer" é crucial para entender a nova dinâmica desse relacionamento. Jesus afirma que revelou aos discípulos tudo o que ouviu de Seu Pai. Isso significa que Ele não guardou segredos sobre a vontade divina, mas partilhou livremente o conhecimento do plano de salvação. A revelação é um ato de confiança e amor, indicando que os discípulos são agora participantes do mistério divino. Essa revelação não é apenas intelectual, mas transformadora, convidando-os a uma participação ativa na missão de Cristo.

Comentário dos Santos Padres

Santo Agostinho: A Graça e Elevação da Condição Humana 

Santo Agostinho vê nesta passagem a manifestação da graça divina que eleva a condição humana. Ele explica que, através da amizade com Cristo, os seres humanos são elevados de uma posição de simples servos para amigos de Deus, um status que era impensável sem a intervenção da graça divina. Para Agostinho, essa transformação é um testemunho do amor de Deus que deseja compartilhar Seu plano e vida com a humanidade. Ele argumenta que, pela graça, somos chamados a uma comunhão que transcende a obediência servil e se enraíza na liberdade do amor.

São Tomás de Aquino: Graça e Revelação como Base da Amizade com Cristo 

São Tomás de Aquino oferece uma análise teológica profunda sobre a passagem. Ele concorda que a amizade implica um compartilhar de vida e conhecimento. Para Tomás, a base dessa amizade é a graça, que torna possível a revelação de Deus aos homens. Ele enfatiza que, sem a graça, os seres humanos não poderiam compreender ou participar dos mistérios divinos. A amizade com Cristo, portanto, é tanto um dom da graça quanto um chamado à resposta ativa ao conhecimento revelado. São Tomás destaca que essa amizade transforma a vida moral e espiritual dos discípulos, chamando-os a viver de acordo com a verdade revelada.

João 15,15 é uma passagem que marca uma mudança radical no relacionamento entre Jesus e Seus discípulos. De servos obedientes, eles são elevados ao status de amigos, com quem Jesus partilha os mistérios divinos. Essa amizade é fundamentada na revelação e na graça, como destacado pelos comentários dos Santos Padres. Através dessa exegese, podemos compreender melhor a profundidade e a beleza do convite de Jesus à intimidade e ao conhecimento mútuo, refletindo sobre como esse modelo de amizade divina pode transformar nossas próprias relações e espiritualidade.

 

SIGNIFICADO TEOLÓGICO

Amizade com Deus

O conceito de amizade com Deus, como apresentado em João 15,15, oferece uma visão extraordinariamente íntima do relacionamento entre o ser humano e o divino. Jesus, ao chamar Seus discípulos de amigos, rompe com a noção tradicional de um Deus distante e inacessível, reforçando uma proximidade e familiaridade sem precedentes. A amizade descrita por Jesus vai além da servidão, que implica obediência sem compreensão, e introduz um relacionamento baseado no amor, confiança e partilha de vida.

Este novo status de amizade significa que os discípulos não são apenas seguidores obedientes, mas companheiros próximos de Jesus, que compartilham de Sua missão e compreensão do plano de Deus. A amizade com Cristo não é apenas uma relação hierárquica; é uma comunhão de corações e mentes, onde os discípulos são chamados a conhecer e participar da vida divina. Isso reflete a ideia de que Deus deseja um relacionamento pessoal e profundo com cada indivíduo, onde a fé é vivida através da intimidade com Cristo.

Revelação e Conhecimento

A revelação e o conhecimento desempenham um papel central na amizade com Jesus. Ao declarar que deu a conhecer aos discípulos tudo o que ouviu do Pai, Jesus destaca que a amizade é baseada na partilha da verdade divina. Este ato de revelação é um gesto de confiança e amor, onde Jesus convida os discípulos a participarem dos mistérios do Reino de Deus.

A participação nos mistérios divinos significa que os discípulos não são meros recipientes passivos de informações, mas são chamados a uma compreensão ativa e vivencial da vontade de Deus. Esta revelação transforma a vida dos discípulos, proporcionando-lhes uma nova perspectiva e propósito. O conhecimento de Deus não é meramente intelectual, mas profundamente espiritual e existencial, moldando a maneira como os discípulos vivem e interagem com o mundo.

A teologia católica enfatiza que esta revelação é acessível a todos os crentes através da Sagrada Escritura, dos Sacramentos e do ensinamento da Igreja. A amizade com Jesus implica uma contínua busca por uma compreensão mais profunda da fé, através da oração, estudo e prática religiosa. Este conhecimento é sempre uma graça divina, oferecida por meio da ação do Espírito Santo, que ilumina a mente e o coração dos crentes.

Implicações Práticas

A amizade com Jesus, fundamentada na revelação e conhecimento divino, traz consigo implicações práticas significativas para a vida cristã. Primeiramente, exige um compromisso com o seguimento dos mandamentos de Cristo. Jesus deixa claro que a amizade com Ele é evidenciada pela obediência aos Seus ensinamentos: "Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando" (João 15,14). Isso significa viver segundo a vontade de Deus, manifestando amor, justiça e misericórdia nas ações diárias.

Além disso, a amizade com Jesus chama os crentes a uma vida de santidade e transformação contínua. Ser amigo de Cristo implica abandonar o pecado e buscar a conformidade com a Sua vontade. Isso é alcançado através de uma vida sacramental ativa, particularmente na Eucaristia e na Reconciliação, que alimentam e renovam a graça divina na alma do crente.

Outro aspecto prático é o compromisso com a comunidade cristã. A amizade com Jesus não é isolada, mas vivida em comunhão com outros crentes. Isso se reflete na importância da fraternidade, do serviço ao próximo e do testemunho da fé no mundo. A comunidade cristã é chamada a ser um reflexo da amizade de Cristo, promovendo a unidade, o apoio mútuo e a evangelização.

Por fim, a amizade com Jesus leva a uma maior confiança e esperança nas promessas divinas. Saber que somos amigos de Cristo, que Ele nos revelou os mistérios do Pai, traz consolo e encorajamento, especialmente em tempos de dificuldade. Essa confiança se traduz em uma vida de oração fervorosa, onde buscamos constantemente a presença e a orientação de Deus.

Em conclusão, o significado teológico de João 15,15 revela uma relação profunda e transformadora entre Jesus e Seus seguidores. A amizade com Cristo, baseada na revelação e conhecimento divino, chama-nos a viver de acordo com a vontade de Deus, a buscar a santidade e a participar ativamente na comunidade cristã. Este versículo é um convite a uma vida de intimidade com Deus, onde a fé se manifesta em amor, obediência e comunhão.

 

APLICAÇÕES ESPIRITUAIS

Vida de Oração como Diálogo entre Amigos

A amizade com Jesus, conforme descrita em João 15,15, transforma fundamentalmente a maneira como nos aproximamos da oração. Em vez de uma prática formal e distante, a oração se torna um diálogo íntimo e pessoal com um amigo querido. Jesus nos chama a compartilhar nossas alegrias, tristezas, dúvidas e esperanças com Ele, confiando plenamente em Sua escuta e resposta amorosa. Esta abordagem à oração reflete a confiança e a abertura características de uma verdadeira amizade, onde não há segredos ou reservas. A oração, portanto, é uma conversa contínua com Cristo, permitindo-nos crescer na intimidade e na confiança.

Participação Ativa na Vida Comunitária, Espelhando a Amizade com Cristo

A amizade com Jesus também tem implicações diretas na nossa vida comunitária. Assim como Jesus nos chama de amigos e compartilha conosco os mistérios do Reino, somos chamados a refletir essa amizade em nossas relações com os outros. Participar ativamente na vida da comunidade cristã, seja na paróquia, nos grupos de oração ou em serviços sociais, é uma forma de espelhar a amizade de Cristo. Isso inclui apoiar, consolar e edificar nossos irmãos e irmãs na fé, criando uma rede de relações baseadas no amor, na confiança e no serviço mútuo. A comunidade cristã deve ser um reflexo da comunhão divina, onde cada membro se sente acolhido e valorizado.

Crescimento Espiritual através da Amizade com Jesus

A amizade com Jesus é uma fonte constante de crescimento espiritual. Ao cultivar essa amizade, somos continuamente transformados pela graça divina. Jesus, como nosso amigo, guia-nos na jornada da santificação, iluminando nossas mentes com a verdade e aquecendo nossos corações com Seu amor. Através da leitura da Sagrada Escritura, da participação nos Sacramentos e da prática das virtudes cristãs, aprofundamos nossa relação com Cristo. Este crescimento espiritual é um processo contínuo, onde nos tornamos cada vez mais conformes à imagem de Cristo, vivendo de acordo com Seus ensinamentos e buscando refletir Sua presença no mundo.

Em resumo, as aplicações espirituais de João 15,15 nos convidam a viver uma vida de oração intensa e pessoal, a participar ativamente na comunidade cristã e a buscar um crescimento espiritual constante através da amizade com Jesus. Esta amizade não só nos transforma individualmente, mas também enriquece e fortalece a comunidade de fé, tornando-a um verdadeiro reflexo do amor e da comunhão divina.


PARTE 2: A AMIZADE CRISTÃ À LUZ DE JOÃO 15,15

FUNDAMENTOS DA AMIZADE CRISTÃ

Amor Ágape

O amor ágape é a base fundamental da amizade cristã. Diferente de outros tipos de amor, ágape é um amor sacrificial e incondicional, que busca o bem do outro sem esperar nada em troca. Este amor é exemplificado pelo próprio Cristo, que deu Sua vida por Seus amigos (João 15,13). Na amizade cristã, o amor ágape se manifesta através do cuidado, da generosidade e da disposição para sacrificar-se pelo bem-estar do amigo.

Exemplos Práticos:

  • Ajuda Mútua: Amparar um amigo em momentos de necessidade, seja oferecendo suporte emocional, financeiro ou prático.

  • Sacrifício Pessoal: Estar disposto a colocar as necessidades do amigo acima das próprias, como dedicar tempo e recursos para ajudar em uma situação difícil.

Transparência e Confiança

A honestidade e a abertura são pilares essenciais da amizade cristã. Jesus chamou Seus discípulos de amigos porque lhes revelou tudo o que ouviu do Pai, demonstrando total transparência. Da mesma forma, amigos cristãos são chamados a compartilhar seus sentimentos, pensamentos e vidas de maneira sincera e aberta.

Exemplo Prático:

  • Compartilhar Sentimentos e Pensamentos Sinceros: Criar um ambiente de confiança onde se pode falar abertamente sobre medos, esperanças e desafios, sabendo que será acolhido com compreensão e apoio.

Comunhão e Partilha

A amizade cristã envolve a partilha de experiências, conhecimentos e vida espiritual. Este tipo de comunhão reflete a natureza comunitária da fé cristã, onde os crentes são chamados a crescer juntos em santidade e compreensão.

Exemplo Prático:

  • Atividades Espirituais em Grupo: Participar juntos de estudos bíblicos, grupos de oração e retiros espirituais, fortalecendo a fé e a amizade através de experiências compartilhadas.

Fidelidade e Lealdade

Lealdade é uma marca distintiva da verdadeira amizade cristã. A fidelidade implica estar ao lado do amigo nos bons e maus momentos, oferecendo apoio constante e inabalável. Esta lealdade reflete a fidelidade de Cristo, que permanece conosco em todas as circunstâncias.

Exemplo Prático:

  • Apoio Durante Crises Pessoais: Estar presente e disponível durante crises emocionais, financeiras ou de saúde, demonstrando solidariedade e compromisso com a amizade.

Perdão e Reconciliação

Nenhuma amizade é perfeita, e conflitos e desentendimentos são inevitáveis. No entanto, a prática do perdão e da reconciliação é essencial para manter e fortalecer a amizade cristã. Jesus ensinou a importância do perdão ilimitado (Mateus 18,21-22), e este princípio deve guiar nossas relações.

Exemplo Prático:

  • Prática do Perdão Mútuo: Estar disposto a perdoar ofensas e buscar a reconciliação rapidamente, reconhecendo a própria falibilidade e a necessidade de misericórdia.

Os fundamentos da amizade cristã, enraizados no amor ágape, na transparência, na comunhão, na lealdade e no perdão, oferecem um modelo robusto e inspirador para relações interpessoais. Essas qualidades refletem o relacionamento que Jesus deseja ter conosco e nos desafiam a viver de maneira que nossas amizades sejam reflexos do amor divino. Ao cultivar essas virtudes, fortalecemos não apenas nossas amizades, mas também nossa própria caminhada espiritual, promovendo um ambiente de amor, apoio e crescimento mútuo dentro da comunidade cristã.

 

REFLEXÕES PARA A VIDA COTIDIANA

Fortalecer as Relações

Investir tempo e dedicação nas amizades é essencial para fortalecer esses laços. Em um mundo cada vez mais acelerado, pode ser fácil negligenciar as relações em favor de responsabilidades e compromissos. No entanto, a amizade cristã, como exemplificada por Jesus, requer uma atenção especial e intencional. Jesus dedicou tempo para estar com Seus discípulos, ensiná-los e compartilhar momentos significativos com eles.

Para fortalecer as amizades, é crucial reservar tempo regularmente para estar com amigos, seja através de encontros presenciais, telefonemas ou mensagens. Demonstrar interesse genuíno nas vidas deles, celebrar conquistas e estar presente em momentos de necessidade solidifica a base de confiança e amor mútuo. Participar ativamente das vidas uns dos outros cria um vínculo profundo e duradouro, refletindo o amor ágape de Cristo.

Valorizar a Presença

Estar presente nas alegrias e tristezas dos amigos é uma expressão poderosa de amor e lealdia. Jesus demonstrou este princípio ao chorar com os que choravam e alegrar-se com os que se alegravam. A presença física e emocional em momentos importantes é um testemunho de amizade verdadeira.

Valorizar a presença significa ser um ouvinte atento, oferecendo apoio sem julgamento. Nas alegrias, celebrar com entusiasmo as vitórias dos amigos. Nas tristezas, fornecer um ombro para chorar e um coração compreensivo. Esta presença constante, tanto nos bons quanto nos maus momentos, fortalece a amizade e demonstra o compromisso com o bem-estar do outro.

Praticar a Empatia

A empatia é fundamental para compreender os sentimentos e perspectivas dos amigos. Jesus frequentemente mostrou empatia, entendendo as lutas internas e as necessidades daqueles ao Seu redor. Praticar empatia envolve colocar-se no lugar do outro, tentando ver o mundo através dos olhos dele.

Para desenvolver empatia, é importante ouvir ativamente, fazer perguntas e validar os sentimentos dos amigos. Evitar julgamentos rápidos e oferecer apoio emocional sincero ajuda a construir uma conexão mais profunda. Quando os amigos se sentem compreendidos, a amizade se fortalece e se torna um refúgio seguro contra as adversidades da vida.

Promover a Paz

Evitar conflitos e promover um ambiente de harmonia são objetivos centrais da amizade cristã. Jesus ensinou a importância de ser pacificadores, buscando a reconciliação e a paz em todas as circunstâncias. Isso envolve uma disposição para resolver desentendimentos com calma e compreensão, ao invés de permitir que se transformem em conflitos maiores.

Promover a paz significa praticar a comunicação assertiva e respeitosa, evitando fofocas e mal-entendidos. É essencial abordar os problemas diretamente com amor e buscar soluções que beneficiem ambas as partes. Cultivar um ambiente onde o respeito e a compreensão mútua prevaleçam torna a amizade mais resiliente e harmoniosa.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

1.     Encontros Regulares: Planejar encontros semanais ou mensais para manter a conexão viva e compartilhar experiências de vida.

2.    Eventos Especiais: Participar de eventos importantes na vida dos amigos, como aniversários, celebrações de conquistas ou momentos difíceis.

3.    Comunicação Aberta: Manter um canal de comunicação aberto e honesto, onde ambos se sintam à vontade para expressar seus pensamentos e sentimentos.

4.    Gestos de Apoio: Demonstrar apoio através de pequenos gestos, como uma mensagem de encorajamento, uma visita inesperada ou uma ajuda prática.

5.    Mediação de Conflitos: Quando surgirem desentendimentos, abordar a situação com calma e buscar a reconciliação através do diálogo honesto e compassivo.

As reflexões para a vida cotidiana, baseadas nos princípios da amizade cristã, nos chamam a investir tempo e dedicação, valorizar a presença, praticar a empatia e promover a paz em nossas amizades. Ao seguir o exemplo de Jesus, podemos construir relações mais fortes, amorosas e duradouras. Essas ações não apenas fortalecem os laços de amizade, mas também nos ajudam a crescer espiritualmente, vivendo os ensinamentos de Cristo de maneira tangível e significativa. Por meio dessas práticas, nossas amizades se tornam um reflexo do amor divino, proporcionando apoio e alegria em todas as fases da vida.

 

CONCLUSÃO

Ao longo deste artigo, exploramos João 15,15 e suas profundas implicações para a amizade, tanto no contexto do relacionamento entre Deus e os homens quanto nas relações humanas. Na primeira parte, analisamos a passagem bíblica em seu contexto histórico e literário, destacando o discurso de despedida de Jesus durante a Última Ceia e a importância dessa mensagem para os discípulos e a Igreja primitiva. A exegese do texto revelou a transformação de servos em amigos, baseada na revelação e no conhecimento divino. Consideramos também os comentários dos Santos Padres, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, que enriqueceram nossa compreensão teológica do versículo.

Na segunda parte, extrapolamos esses ensinamentos para a amizade cristã, identificando fundamentos essenciais como o amor ágape, a transparência e a confiança, a comunhão e a partilha, a fidelidade e lealdade, e o perdão e reconciliação. Discutimos também reflexões práticas para a vida cotidiana, enfatizando a importância de investir tempo e dedicação nas amizades, valorizar a presença, praticar a empatia e promover a paz.

João 15,15 é um versículo central para entender a natureza da amizade cristã. Jesus, ao chamar Seus discípulos de amigos, redefine nosso relacionamento com Deus, convidando-nos a uma intimidade profunda e transformadora. Esta amizade, baseada no amor e na revelação, é um chamado a viver de acordo com os mandamentos de Cristo, buscando a santidade e a união com Ele.

Convidamos todos a praticar os princípios discutidos neste artigo, aprofundando a amizade com Cristo e com os outros. A amizade cristã, vivida à luz de João 15,15, é uma fonte inesgotável de graça e crescimento espiritual. Ao cultivar essas relações, não apenas fortalecemos nossos laços pessoais, mas também contribuímos para a edificação de uma comunidade cristã mais forte e unida.

Refletindo sobre o impacto da amizade cristã na vida pessoal e comunitária, percebemos que ela é um poderoso testemunho do amor de Deus no mundo. Relações baseadas na amizade de Cristo promovem a paz, a solidariedade e o crescimento mútuo. Que possamos, inspirados por João 15,15, viver como verdadeiros amigos de Cristo, irradiando Seu amor e luz em todas as nossas amizades.

BIBLIOGRAFIA

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  • Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1993.

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  • Pontifícia Comissão Bíblica. "A Interpretação da Bíblia na Igreja." Vaticano, 1993.

  • João Paulo II. "Carta Encíclica Redemptor Hominis." Vaticano, 1979.

  • Bento XVI. "Jesus de Nazaré." São Paulo: Planeta, 2007.

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